Sexta-Feira, 26 de abril de 2024

A Chamada - Por Sergio David

Publicado em 24/10/2020. https://jornalterral.com.br/t-rpm

Por Sérgio David

Corria o ano de 1976 na Universidade Federal de Viçosa, UFV, em Viçosa, MG, e a nossa turma cognominada “Furacão” cursava o oitavo período.

Maurinho Luís dos Santos, capixaba natural de Jaqueira, distrito de Cachoeiro do Itapemirim, ES, durante quase todo o curso destacou-se como um dos melhores alunos da turma. Contudo, nos últimos períodos iniciou um forte namoro com Eloisa e a paixão repentina levou-o a abandonar o seleto time dos “Cu-de-Ferro” para entrar de vez no grande time dos “Coça Saco”.

Victor Manoel Ortega, ao contrário, sempre foi ícone no segundo time. Conseguira chegar ao oitavo período graças às frequentes “colas” do Maurinho. O “Gringo”, como era chamado, era natural da Venezuela e desde o primeiro semestre conquistara toda a turma dado o seu carisma, simpatia e alegria contagiante. Tinha um dos dentes de ouro e usava aquelas camisas de seda, de elegância duvidosa e típica dos latinos, caracterizada por quatro pequenas pregas na frente a uma larga prega nas costas.

Como a nossa turma de Agronomia era muito grande. os professores comumente usavam a lista de assinatura em substituição à chamada oral.

Maurinho já no primeiro dia de aula dos últimos semestres, assinava a lista de chamada usando letras de forma: MAURINHO LUIS DOS SANTOS, de modo que ele pudesse depois pedir ao Victor para assinar, sempre, em seu lugar.

Até que na disciplina de Botânica, ministrada pelo professor Helvércio, apelidado pelos alunos de “Helvércio Meia Phoda”, aconteceu a tragédia:

Helvércio, ao receber a lista de assinaturas, estranhou o fato de haver mais de oitenta assinaturas e pouco mais de trinta alunos presentes.

E aí fez cara de zangado, perdeu aquele típico ar de humildade e bradou:

– Longe de mim desconfiar dos senhores, mas acho que por uma questão de respeito aos que realmente estão presentes eu vou proceder a chamada oral dessa lista.

– Ana Teresa Viana de Souza.

– Presente.

– Aníbal dos Santos Rodrigues.

– Presente.

– Arismário Gomes de Oliveira.

Silêncio total.

– Arismário Gomes de Oliveira?

E aí Helvércio anotou um asterisco ao nome do Arismário, o que gerou certa tensão no ar.

Meia Phoda então retomou a chamada:

– Antônio de Pádua Alvarenga.

– Presente.

– Carlos Alberto Pereira.

– Presente.

– Cláudio Prattes Zago.

– Presente.      

– Eveline Chartuni Mantovani.

– Presente

– Elias Nunes Martins.

Silêncio novamente.

– Elias Nunes Martins?

Mais um asterisco na lista e a tensão só aumentando.

– Ivan Moreira.

- Presente.

– Joaydlson Antônio Barra Ferreira.

– Presente.

– Josias Roberto Fernandes de Andrade.

– Presente.

– João Maricato Júnior.

Silêncio interminável.

– João Maricato Júnior?

Mais um para o sal e a tensão cada vez maior.

– José Dalton Barbosa.

– Presente.

– José Rogério Lara.

– Presente.

– Maria Eunice dos Reis.

– Presente.

E aí o Victor que havia assinado pelo Maurinho começou a ficar nervoso.

– Maria Carmen Bhering.

– Presente.

– Maurinho Luiz dos Santos.

E aí aquela inconfundível voz com sotaque castelhano do Victor Ortega:

Brezééénte.

– Helvércio repetiu:

– Maurinho Luiz dos Santos?

E aí todos os silêncios do mundo na sala... tensão total!!!!!

Alguns colegas chegaram a fazer gestos de top-top com as mãos seguido de:

– Ihhh, Ihhh, Ihhhh.

Helvércio, então, parou de fazer a chamada e perguntou:

– Quem respondeu presente pelo Maurinho?

– Silêncio de ouvir zumbido de mosca.

E Helvércio, já meio irritado, correu os olhos por toda a sala e parou no Victor.

E aí o Victor, meio que acuado, reagiu:

– Gomo o senhor chamou, professor?

– E o professor Helvércio, bastante irritado, gritou:

– Eu perguntei quem respondeu “presente” pelo Maurinho?

E aí o Victor Manoel Ortega soltou a pérola que fez explodir toda a sala:

– Desgulpa brofessor, eu entendí o senhor chamar “VITINHO”

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