Arquivo TERRAL

A prefeitura doou áreas públicas e inviabilizou a construção da rodoviária
Por Daniel Porto
A construção da rodoviária de Linhares foi anunciada pela primeira vez na gestão do prefeito Senatilho Perin (1967 - 1970), assim que a prefeitura adquiriu uma área para esse fim, perto do parque de exposições, entre os bairros Novo Horizonte e Interlagos. Na época foi colocada uma placa com os dizeres: “Futuras instalações da rodoviária de Linhares”.
Durante anos, a instalação da placa foi atribuída ao prefeito Samuel Batista Cruz, que esteve à frente do município de 1973 a 1976. Para tirar a dúvida, o TERRAL ouviu moradores, recorreu a livros e leu uma monografia apresentada para a Faciasc (faculdade) pelas acadêmicas Rosa Charilli Berger e Thaís da Silva, em 2005, para obtenção da licenciatura em História.
Na elaboração do trabalho, Rosa e Thaís entrevistaram o ex-prefeito Senatilho Perin em 5 de outubro de 2005, e ele citou, entre as realizações, a aquisição de área atrás do núcleo residencial BNH para construção do parque de exposição agropecuária e de um terreno para futura instalação de uma estação rodoviária.
As mesmas informações constam no livro Panorama Histórico de Linhares, lançado em 1982 pela professora Maria Lúcia Grossi Corrêa Zunti. Registre-se que, por meio do prefeito Senatilho, em julho de 1969 a prefeitura doou a área do parque de exposições, medindo 61,3 mil metros quadrados, para o Sindicato Rural Patronal.
Senatilho deixou o cargo de prefeito em 31 de janeiro de 1971 sem iniciar as obras da rodoviária. O vice-prefeito José Rodrigues Maciel, eleito prefeito em 15 de novembro de 1970, tomou posse em 31 de janeiro de 1971 para cumprir mandato de dois anos, em 1971 e 1972, e manteve a placa relacionada à rodoviária no local.
Da prefeitura para associação – e daí para particulares
Eleito prefeito em 15 de novembro de 1972 para exercer o cargo de 1973 a 1976, Samuel Batista Cruz deixou o local inalterado até 30 de outubro de 1975, quando a prefeitura doou seis mil metros quadrados de área para a Associação Atlética Banestes de Linhares (AABL), por meio da lei nº 706.
Conforme a lei, a prefeitura obrigava a associação a construir a sua sede no prazo máximo de um ano, exigência que foi atendida. Nos anos seguintes, a AABL estruturou o local, oferecendo conforto e opções aos associados e alugando o espaço para a realização de variados eventos.
A situação mudou nos últimos anos, com o encerramento das atividades e construções comerciais no local. Mesmo sem confirmação oficial, moradores da região afirmam que associados do Banestes negociaram a área com empresários, levando à seguinte conclusão: um terreno que era público foi doado para uma associação e daí para particulares.
Obras tiveram início em agosto
Cid Costa / Governo - ES

Vice-governador Ricardo Ferraço, prefeito Lucas Scaramussa e presidente da Ales, Marcelo Santos, mostram ordem de serviço ao lado de outras lideranças
Por Daniel Porto
A prefeitura de Linhares e o governo do Espírito Santo confirmaram no dia 21 de agosto deste ano a construção da tão esperada rodoviária no município, perto da loja Havan, BR 101 e aeroporto. A assinatura da ordem de serviço ocorreu no dia seguinte (22/8) e a empresa Vale do Ouro é a responsável pela execução dos serviços, que estão em andamento.
A obra é uma parceria entre a prefeitura e o governo estadual, com investimento de R$ 14,19 milhões, cada um arcando com 50% dos custos. A rodoviária terá mais de 13 mil metros quadrados de área e capacidade para atender 300 mil passageiros por ano. Para a construção serão contratados cerca de 200 trabalhadores.
A estrutura vai contar com 11 plataformas para ônibus, 130 vagas de estacionamento, espaço para táxis e veículos de aplicativos, banheiros, lojas comerciais, praça de alimentação, área administrativa e 350 assentos para passageiros e acompanhantes. Pelo contrato, a empresa vencedora da licitação tem prazo de 660 dias para conclusão dos trabalhos.
População aguarda há mais de 50 anos
Daniel Porto

A agência da Águia Branca é chamada erroneamente de rodoviária
Por Daniel Porto
A construção da rodoviária de Linhares é abordada pelo TERRAL desde o surgimento do veículo, em 1990, mas o assunto começou a ser discutido bem antes. Enquanto a obra não sai, as empresas de ônibus operam na cidade ao lado de bares e a agência da Águia Branca é chamada erroneamente de rodoviária.
Na gestão do prefeito Senatilho Perin (1967 - 1970), após a aquisição de área foi colocada uma placa perto do parque de exposições, entre os bairros Interlagos e Novo Horizonte (então conhecido como Casas Populares), com os dizeres: “Futuras instalações da rodoviária de Linhares”.
Na época, para chegar ao Interlagos: caminhando, de bicicleta ou de carro era necessário seguir pela região do bairro Novo Horizonte. Se não fosse usando esse trajeto, só nadando ou por meio de pequenas embarcações, pois a ponte - aterro ligando o Interlagos ao bairro Araçá foi inaugurada em 1976 e a ponte que dá acesso ao bairro Shell, em 2012.
Com o passar dos anos, a prefeitura foi se desfazendo de áreas públicas. Em 1969 doou um terreno para o Sindicato Rural Patronal, transformado em parque de exposições; e em 1975 doou uma área para a Associação Atlética Banestes Linhares, que depois dos anos 2000 foi vendida por associados a particulares. Com isso, a placa foi retirada e a rodoviária não saiu do papel.
O assunto continuou em evidência. Em outubro de 1980, estudo divulgado pela Fundação Jones dos Santos Neves, hoje Instituto, destacava a necessidade de uma estação rodoviária e indicava até o local adequado: “nas três quadras vagas entre a BR-101 e as ruas Rufino de Carvalho e Augusto Pestana e a avenida Augusto Calmon, no Centro da cidade”.
“Na área disponível, atualmente de propriedade particular, poderia, além da rodoviária, ser instalado, também, o terminal de transporte coletivo urbano”, registra o documento. Linhares contava com 63 mil habitantes e gerava uma demanda diária por transporte coletivo interurbano e intramunicipal de 107 chegadas e 107 partidas.
Os veículos pertenciam a sete empresas, embora a maior concentração de linhas estivesse somente com duas: a Joana Darc e a Águia Branca. Nas décadas seguintes, prefeitos, vice-prefeito e secretários municipais chegaram a conceder entrevistas dizendo que tinham projetos prontos visando à construção da desejada rodoviária.
No primeiro governo de José Carlos Elias (1993-1996), o vice-prefeito Ronaldo Lopes fez um movimento para que o estádio Joaquim Calmon, que era utilizado pelo América Futebol Clube, no bairro Shell, fosse desapropriado para abrigar a rodoviária. A área acabou sendo vendida, anos mais tarde, por herdeiros de Joaquim Calmon para um grupo empresarial.
Na segunda gestão de José Carlos Elias (2005-2008), o então secretário de Desenvolvimento, Edval Antônio Sant’Ana, disse que havia um estudo em andamento visando viabilizar a construção da rodoviária no bairro Aviso, perto do Sesi-Senai.
Em julho de 2014, na gestão do prefeito Jair (Nozinho) Corrêa (2013-2016), o secretário de Desenvolvimento Rodrigo Paneto anunciou a intenção de construir um terminal rodoviário às margens da BR 101, no km 146, sentido bairro Canivete-Centro, próximo ao aeroporto. A obra teria capacidade para atender até 600 mil embarques por ano.
A área total teria 40 mil metros quadrados e 15 mil metros de edificações, dentre outros detalhes. O terreno pretendido pelo município seria objeto de desapropriação ou permuta. O projeto gerou polêmica na câmara, com vereadores de oposição questionando o possível negócio, e chegou ao ministério público.
A permuta da área foi aprovada pelos vereadores em 12 de janeiro de 2015, em sessão extraordinária. O projeto enviado pelo executivo autorizava a permuta de áreas do município por uma área maior, situada às margens da BR-101, perto da entrada do bairro Linhares 5 e do aeroporto, para construção do terminal de passageiros.
Houve questionamento no ministério público quanto aos procedimentos adotados para a permuta e possível construção do terminal rodoviário. No fim o projeto não saiu do papel. “Pior: saiu do papel e foi para a lata de lixo”, desabafou um vereador.
Em 2020, após ser eleito prefeito de Linhares pela quinta vez, Guerino Zanon chegou a dizer que a construção de uma estação rodoviária era um dos principais projetos que pretendia colocar em prática. “Estamos procurando uma área ideal para receber as obras da rodoviária”, disse ao portal Em Dia ES em 23 de novembro de 2020. Ele deixou o cargo em 31 de março de 2022.
No dia 3 de fevereiro de 2023 o governador Renato Casagrande esteve em Linhares para inaugurar as obras de interligação da rede de distribuição de gás ao gasoduto de transporte Cacimbas - Vitória. Na oportunidade, questionado pela reportagem do TERRAL se o governo teria como contribuir para a construção de uma rodoviária em Linhares, Casagrande respondeu:
“[O governo] tem como contribuir. É só o prefeito [Bruno Marianelli] apresentar projeto que temos recursos para isso e com toda certeza nós poderemos dar essa contribuição sim. Linhares é uma cidade grande que precisa de fato de uma rodoviária”.
No dia 27 de junho de 2024 o então prefeito Bruno Marianelli promoveu um evento perto do aeroporto para anunciar que Linhares teria um terminal rodoviário. Porém, não foram divulgadas informações detalhadas sobre o processo licitatório e nem sobre o início das obras. Bruno não foi reeleito nas eleições de outubro e deixou o cargo em 31 de dezembro de 2024.
No dia 21 de agosto deste ano a prefeitura de Linhares e o governo do Espírito Santo anunciaram o início da obra com prazo de conclusão em 660 dias.