Fotos: Arquivo TERRAL

Os nomes de Amantino Pereira Paiva (E) e Nyder Barbosa de Menezes constam nos registros dos Dossiês do Serviço de Investigações e Informações do ES
Por Daniel Porto
Pelo menos sete lideranças de Linhares foram vigiadas e investigadas durante o regime militar, que vigorou de 1964 a 1985: os políticos Amantino Pereira Paiva e Nyder Barbosa de Menezes, o padre Marcelo Frances Rene Resson e os sindicalistas José Miguel Grace, José Rainha Júnior, Devair Esteves de Oliveira e Valdemiro Broechl.
As informações estão no relatório da Comissão Estadual da Memória e Verdade Orlando Bonfim, criada pela lei nº 8.911/2012 e conduzida por pessoas conhecidas no estado, como Agesandro da Costa Pereira, Francisco Aurelio Ribeiro, Jeanne Bilich e João Baptista Herkenhoff. O grupo pesquisou, catalogou e analisou diversos documentos, e tomou vários depoimentos.
O estudo traz à baila informações importantes e os nomes de 95 pessoas que foram alvo de vigilância e/ou investigação por participarem de encontros políticos no Espírito Santo e em tese se colocarem contra o regime vigente, conforme registros dos Dossiês do Serviço de Investigações e Informações/ES. Da lista, pelo menos sete concentravam as suas atividades em Linhares.
Políticos conhecidos, Amantino e Nyder foram eleitos na década de 1970 pelo MDB, partido que fazia oposição a Arena (Aliança Renovadora Nacional), sigla que dava sustentação ao governo, Mesmo no MDB, ambos nunca adotaram uma linha “subversiva”, ou seja, não contestavam duramente o regime – principal preocupação dos órgãos de segurança da época.
Nas eleições municipais de 1976 Amantino foi eleito vereador pelo MDB com 862 votos. Ficou atrás apenas de Waldemar Zardo, da Arena, que recebeu 890. Ele mudou de sigla durante o mandato e disputou a prefeitura em 1982 pelo PDS (ex-Arena), sem obter sucesso. Nas décadas seguintes venceu mais quatro eleições para vereador e ocupou outros cargos públicos de destaque, como secretário e procurador-geral do município.
Formado em direito na Ufes, Nyder Barbosa de Menezes (1929-2011) trabalhou no Banco do Brasil e no início da década de 1970 ingressou no MDB, sendo eleito deputado estadual em 1974 e 1978 e deputado federal em 1982 e 1986. Foi deputado constituinte e, em 1990, não concorreu à reeleição. Lançou a esposa, Etevalda Grassi, que foi vitoriosa nas urnas. Em seguida, passou a se dedicar à Federação da Agricultura do Espírito Santo (Faes).
O padre Marcelo Frances atuou por um tempo em Paraíso Novo, localidade que pertencia a Linhares e atualmente faz parte do município de Vila Valério, emancipado em 1994. Já os sindicalistas José Miguel Grace, José Rainha Júnior, Devair Esteves de Oliveira e Valdemiro Broechl eram ligados aos trabalhadores rurais e ao PT. Nas eleições de 1988, Devair foi candidato a vereador e Valdemiro disputou a prefeitura de Linhares. Ambos perderam.
Nascido em São Gabriel da Palha em 4 de julho de 1960, José Rainha Júnior, mais conhecido como Zé Rainha, participou da comunidade eclesial de base em Linhares e ajudou a organizar a pastoral da juventude. É um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A sua atuação divide opiniões; uns elogiam e outros criticam.
Além da função de resgatar a memória política do Espírito Santo, a comissão foi instituída para subsidiar os trabalhos desenvolvidos pela Comissão Nacional da Verdade, criada no final de 2011. Teve ainda a finalidade de esclarecer fatos e circunstâncias de casos de graves violações de direitos humanos, dentre outras atribuições.
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A atuação de José Rainha Júnior divide opiniões; uns elogiam e outros criticam
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Amantino discursando na Câmara de Linhares na década de 1970