Terça-Feira, 15 de outubro de 2024

Linhares e os 220 anos de história e desenvolvimento

Publicado em 26/08/2020. https://jornalterral.com.br/t-jxK

Em 1800, para proteger dos índios os moradores (e outros que viriam), o governador da Capitania do Espírito Santo, Antonio Pires da Silva Pontes, subiu o Rio Doce, a partir da sua foz, e fundou vários quarteis militares. Primeiro, o de Regência Augusta, nome dado em homenagem a D. João VI que, na época, era Regente em Portugal.

Aproximadamente 40 quilômetros acima, fundou o Quartel Coutins, nome dado em homenagem a Dom Rodrigo de Souza Coutinho, Senhor de Pancas e Coutins, em Portugal, ministro da Marinha e Negócios Ultramarinos do Reino, que incentivara de longe a abertura da navegação fluvial e povoamento do rio.

Em volta desse quartel surgiu uma modesta povoação, que foi atacada várias vezes pelos índios e destruída em 1808, quando os soldados haviam se ausentado para acudir outro povoado rio acima.

Nesse mesmo ano, outro governador da Capitania, Manoel Vieira de Albuquerque Tovar, subiu o rio e reconstruiu o quartel e o povoado, dando então o nome de Linhares, uma vez que Dom Rodrigo, naquela época, tinha sido agraciado com o título de Conde de Linhares, pois mudara com a Família Real para o Brasil, isto também em 1808.

De acordo com a professora e historiadora Maria Lúcia Grossi Zunti, algumas publicações informam que o então governador queria proteger a navegação de sua foz até a Capitania de Minas Gerais. Ela discorda: “Quando os quartéis militares foram criados em 1800 não era para proteger o ouro das minas gerais, e sim para proteger dos índios os moradores que viessem para a região. Em 1800 o ouro das minas gerais já tinha se esgotado. Por isto é que Portugal resolveu povoar o Rio Doce”, destaca.

 

Site da PML

Vista e perspectiva do Povoado de Linhares em 1819

 

Site da PML - Felipe Reis

Linhares conta atualmente com mais de 170 mil habitantes

 

Primeiro colono ilustre

Em 1809, o governador Manoel Vieira de Albuquerque Tovar convidou lavradores que quisessem se estabelecer em Linhares, oferecendo vantagens. João Filipe Du Pin Almeida Calmon, homem empreendedor e proprietário de terras entre Itapemirim e Benevente, veio para Linhares com a família em novembro daquele ano.

 

Primeira emancipação política

Em 1827 teve início o processo de emancipação político-administrativa de Linhares, e no dia 2 de abril de 1833, tendo o povoado 713 habitantes, foi elevado à categoria de Vila. No dia 22 de agosto de 1833 instalou-se a primeira Câmara de Vereadores do município recém-criado, iniciando-se a vida político-administrativa de Linhares. À época, a Câmara Municipal era a representação do governo municipal.

 

O ciclo do cacau e a segunda emancipação

No início do século XX, Linhares enfrentou muitos problemas econômicos e dificuldades de transporte e abastecimento, provocados, principalmente, pela instalação da Estrada de Ferro Diamantina, cujo traçado passava por Colatina (Colatina, Baixo Guandu e parte dos municípios de Ibiraçu, Santa Teresa e Itaguaçu eram patrimônio de Coutins, que havia sido denominado Linhares.

O abalo econômico levou a sede do município para Colatina e a perda da independência da Vila de Linhares, em 1921. A partir daí, até dezembro de 1943, Linhares passou a ser distrito de Colatina. O investimento no plantio de cacau e os esforços dos governadores Jerônimo Monteiro e Nestor Gomes despertaram o interesse de agricultores por meio de situações bastante atraentes para maior desenvolvimento da lavoura.

Com base nos resultados positivos verificados na vida econômica de Linhares, o município foi recriado em 31 de dezembro de 1943, por meio do Decreto nº 15.177, assinado pelo então governador Jones dos Santos Neves. Roberto Calmon, primeiro filho de Linhares a se formar em Medicina, foi nomeado primeiro prefeito do município.

Daí para frente, Linhares foi crescendo, tendo dois fatos impulsionado esse desenvolvimento: a construção da Ponte Presidente Getúlio Vargas e o asfaltamento da rodovia BR 101, entre João Neiva e Linhares, inaugurado em outubro de 1972. A inauguração da ponte foi liderada pelo presidente Getúlio Vargas, que caminhou sobre ela no dia 22 de junho de 1954, acompanhado do prefeito Joaquim Calmon e das principais autoridades do município e do Estado.

A rodovia no trecho citado foi inaugurada em 1972 pelo então Ministro dos Transportes, Mário Andreazza, que percorreu, acompanhado de grande comitiva, todo o trecho de 55 quilômetros no interior de uma perua Veraneio do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), órgão vinculado ao seu Ministério.

A data festiva foi instituída pelo então prefeito Joaquim Calmon em 15 de agosto de 1951 e fixada em 22 de agosto em virtude de sua primeira emancipação, o que muito honra a memória cultural e histórica de todos os linharenses e moradores do município.

 

Ariana Arimura

A inauguração da Ponte Presidente Getúlio Vargas, em 1954, impulsionou o desenvolvimento de Linhares

 

Aspectos geográficos

Situado no Norte do Espírito Santo, Linhares ocupa uma área de 3.496 quilômetros quadrados, a maior dentre os municípios do Estado. Possui cerca de 175 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE.

A sede de Linhares está localizada na planície do Rio Doce, apresentando topografia plana e ruas e avenidas largas. A costa atlântica é formada por belas praias, situadas numa distância média de 45 quilômetros da sede do município. Linhares também possui reservas biológicas, dezenas de rios e lagoas, além de uma bonita cachoeira no distrito de São Rafael.

 

PML

A sede do município apresenta topografia plana e ruas e avenidas largas

 

Aspectos econômicos

Linhares ocupa uma posição importante na economia capixaba. Destaca-se na agropecuária – diversificada e moderna. É um grande produtor de leite e o maior produtor de cacau do Espírito Santo. Também produz bastante mamão, cana de açúcar, laranja, maracujá, café, pimenta do reino, banana, coco e outras culturas.

É forte na indústria de móveis, sendo o maior polo moveleiro do Estado e um dos mais estruturados do Brasil. Possui a maior área territorial do Espírito Santo e detém reservas de granito, petróleo e gás natural.

Linhares é um dos mais importantes polos de desenvolvimento do Norte do Estado, reunindo bancos, comércio, indústria e faculdades, além de se destacar no setor de prestação de serviços, em diversos segmentos.

A partir de 1998, com a inclusão de Linhares na área de influência da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), diversos projetos para instalação de indústrias foram viabilizados. Com isso, os segmentos econômicos do município se estruturaram, atraindo novos empreendimentos para a região.

 

Divulgação

Linhares possui o maior pólo moveleiro do Estado e um dos mais estruturados do Brasil

 

Aspectos culturais

Os pontos altos da cultura linharense são o folclore, a música, a literatura e as artes plásticas. O folclore do município tem sua maior expressão em Regência e Povoação, por meio de grupos de congo.

Na música, bandas e cantores que seguem carreira solo se apresentam em clubes, bares e restaurantes.

Linhares conta com vários escritores com obras editadas e artistas plásticos que promovem exposições individuais e coletivas no município e em outras cidades.

 

PML

Bandas de congo de Regência e Povoação são referências do folclore do município

 

Símbolos de Linhares

Linhares possui como símbolos o Brasão, a Bandeira e o Hino. Utilizado nas correspondências oficiais e reconhecido pelos poderes, o Brasão é uma criação do heraldista e desenhista Alberto Lima.

O escudo português representa a origem lusitana de nossa Pátria; a árvore evidencia a região, rica em madeiras de lei; o tronco frutado, a riqueza cacaueira do município; as quatro estrelas, os bandeirantes: Dias Arzão, Antonio Dias Adorno, Marcos Azevedo Coutinho e Martins Cão; a coroa de conde recorda D. Rodrigo de Souza Coutinho, conde de Linhares, 1º Ministro do exército do Brasil; a faixa ondada, o rio Doce; e a flor-de-lis, Nossa Senhora da Conceição, Padroeira do município.

A Bandeira possui faixas nas cores branca e azul e, no meio, o Brasão de Linhares. Também constam as datas de 1800, referente à fundação do Povoado de Coutins e, consequentemente, de Linhares, e de 1943, data da reinstalação do município – segunda emancipação político-administrativa.

O Hino de Linhares é de autoria de Francisco Correia de Amorim, responsável pela letra e melodia. O hino é interpretado há décadas pela cantora linharense Dinorah Porto, que fez questão de incluí-lo em seu primeiro CD, gravado em 2000.

Cabe registrar o esforço da professora e historiadora Maria Lúcia Grossi Zunti, que em 1989 foi a Aracruz, pegou a letra do hino com as devidas partituras com o senhor Francisco Correia de Amorim e, em Linhares, pediu para a artista Maria Inês Quitiba tocá-lo no piano.

Também coube a Maria Lúcia, após se reunir com representantes de diversos segmentos de Linhares, substituir a palavra “planalto” por “planície” no hino, e a Dinorah Porto suprimir a palavra “central” e incluir “tão bela”. Com as alterações, o verso passou a ser cantado da seguinte forma: “Nesta planície tão bela do Estado”.

 

Divulgação

O Brasão de Linhares é uma criação do heraldista e desenhista Alberto Lima

 

Daniel Porto / Jornal TERRAL

A cantora Dinorah Porto interpreta há décadas o Hino de Linhares

 

Hino Oficial de Linhares

(Francisco Correia de Amorim)

 

É madrugada de um dia faustoso

Vinde conosco cantar, vibrar

A doce brisa deste glorioso

Rincão que muito nos cabe amar

 

Dourando as matas desponta a alvorada

Vinde conosco observar

Quanta beleza na caminhada

Do Rio Doce em busca do mar.

 

Deus guarde a terra

Que a todos nós, maternalmente

Acolhe e ampara

Em tudo abundantemente

Seu povo à glória

Conseguir possa elevá-la

Cada vez mais

Tornar feliz a sua gente.

 

Nesta planície tão bela do Estado

Vinde conosco observar

Tesouro imenso nos foi legado

Vasto celeiro, flora sem par

 

Entre as lagoas piscosas e belas

Vereis a bela, rica louçã,

Que inspirar pode magistrais telas

A majestosa Juparanã

 

Os principais recantos e lugares de Linhares

Linhares possui muitos recantos propícios ao lazer, à pesca e aos esportes náuticos. Um de seus principais cartões postais é a Lagoa Juparanã, que tem 38 quilômetros de extensão e contornos lindos. A lagoa conta com praias límpidas e pôr do sol de beleza poética,

Também são lugares aprazíveis: a Lagoa Nova, a Ilha do Imperador, as praias de Pontal do Ipiranga, Povoação, Regência, Degredo, Barra Seca e Urussuquara, a Reserva Natural Vale, a Praça 22 de Agosto, a Igrejinha Velha, o Projeto Tamar (em Regência) e a Cachoeira De Angeli, situada no distrito de São Rafael.

A Ilha do Imperador fica localizada na Lagoa Juparanã e recebeu este nome por ter sido visitada pelo Imperador D. Pedro II, em 1860. O presidente Getúlio Vargas também esteve na Ilha, em junho de 1954, quando lhe foi oferecido um típico churrasco gaúcho.

Situado em Regência, o Projeto Tamar é visitado o ano todo por turistas e estudiosos do assunto, por ser uma das grandes áreas de desova das tartarugas marinhas, cuidadosamente preservada pelo Ibama.

O extenso litoral de Linhares conta com praias com características próprias. O Pontal do Ipiranga fica a 48 quilômetros do Centro da cidade e está em franco crescimento. Possui área de restinga, uma rica fauna e praia apropriada para a prática de surf, para pesca e para banho.

A dez quilômetros do Pontal se encontra a praia de Barra Seca, que se destina à prática do naturismo, sendo a sexta praia oficial dessa prática no Brasil. Seu acesso se dá somente por travessia de barco, o que garante a tranquilidade dos freqüentadores adeptos do nudismo.

Localizada perto de Barra Seca, a praia de Urussuquara agrega diversos ecossistemas. Ao longo de dois quilômetros, um rio corre paralelamente ao mar, deixando uma faixa de areia entre as águas e formando, nas águas doces, pequenas lagoas que fazem a alegria de crianças e adultos.

A praia de Regência está situada a 53 quilômetros do Centro de Linhares. O lugar conta com o complexo petrolífero de Lagoa Parda e com o Tamar, projeto de preservação das tartarugas marinhas, na Reserva Biológica de Comboios. A região é reconhecida como um dos maiores sítios de desova de Tartaruga Gigante no Brasil.

A Reserva de Comboios também preserva grande área de restinga e da Mata Atlântica, onde é possível encontrar animais como quatis, tamanduás, tatus e saguis. O encontro do Rio Doce com o Mar, em Regência, oferece raro espetáculo de beleza.

A praia de Povoação, a 42 quilômetros do Centro, possui águas agitadas e grandes ondas, proporcionando excelentes condições para a prática do surf, sendo, por isso, visitada por surfistas de várias partes do Brasil. A foz do Rio Doce fica a três quilômetros do povoado e de lá se pode apreciar o belo encontro das águas do rio com o mar;

 

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O Pontal do Ipiranga fica a 48 quilômetros do Centro de Linhares e está em franco crescimento

 

Principais eventos de Linhares

Além do aniversário do município, comemorado no dia 22 de agosto, Linhares conta com outros eventos expressivos, como a Festa da Padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, em 8 de Dezembro; o Torneio do Trabalhador, cuja final é disputada no dia 1º de Maio, e a Festa em homenagem ao herói Caboclo Bernardo, que ocorre no dia 5 de junho, em Regência,

Além dos eventos citados, vários outros são promovidos durante o ano, na sede, no interior e no litoral de Linhares. O verde da mata atlântica remanescente, o bucolismo das praias e o complexo lacustre formam um paraíso de belezas naturais em Linhares. A história, artesanato, cultura e gastronomia também são pontos fortes do município.

Além da exuberante natureza e das riquezas culturais, a cidade alia o lazer com o negócio, oferecendo oportunidades. Os investimentos na área de petróleo, as indústrias, o pólo moveleiro e o agronegócio têm feito de Linhares uma cidade em constante desenvolvimento.

 

PML

O Torneio do Trabalhador é um dos eventos expressivos de Linhares

 

Prefeitos de Linhares

A segunda emancipação político-administrativa de Linhares ocorreu em 31 de dezembro de 1943, com a posse de Roberto Calmon, que assumiu o cargo no dia 1º de janeiro de 1944. A partir daí, computando a atual gestão, 21 administradores comandaram a Prefeitura de Linhares – alguns, mais de uma vez. Houve ainda um período de intervenção, quando Linhares foi administrado por Hélio Leal.

 

Relação dos administradores de Linhares

Roberto Calmon

Humberto Calmon Neves Fernandes

Miguel Gusman Júnior

Anário Marreiro de Araújo

Manoel Salustiano de Souza

Joaquim Calmon

José de Caldas Brito

Emir de Macedo Gomes

Armando Barbosa Quitiba

Antonio Edson de Azevedo Lima

Antenor Elias

Senatilho Perin

José Rodrigues Maciel

Antonio Muniz dos Reis

Hélio Leal

Luiz Cândido Durão

Waldemar Zardo

Samuel Batista Cruz

José Carlos Elias

Jair (Nozinho) Corrêa

Guerino Luiz Zanon

 

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Roberto Calmon foi o primeiro prefeito de Linhares; ele assumiu o cargo no dia 1º de janeiro de 1944

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