Quinta-Feira, 18 de abril de 2024

O Bode de Chiquinho - Por Sergio David

Publicado em 11/09/2020. https://jornalterral.com.br/t-Kkw

Por Sergio David

Tudo começou quando no carnaval de 1981 o primo Ulisses David, que cursava o último ano de Agronomia na UFV e era era extremamente espirituoso e gozador me ligou lá de Viçosa, MG.

Primo, eu sei que a Olguinha (minha então esposa) tem pavor do Demí Margoso. Então nesse ano eu falei pro Margoso que nós vamos dar carona pra ele passar o carnaval em Vargem Alta conosco.

Margoso era um bêbado maravilhoso natural de Vargem Alta que residia em Vitória. Fedia a cachaça mas tinha tiradas geniais.

Daí Ulisses combinou com Margoso, sem que Olguinha soubesse, para ele nos esperar às 16 horas de quinta-feira, véspera de carnaval, na estação Pedro Nolasco.

Às quinze horas passei na rodoviária de Vitória para apanhar o Ulisses. Depois, ao seguirmos para Vargem Alta, passarmos pela Estação Pedro Nolasco e vimos o Margoso esperando-nos com sua malinha de papelão.

Ulisses então, fingindo o inesperado, de dentro do carro gritou:

Primo, olha quem ‘tá ali pedindo carona. É o Margoso. Pare o carro. Vamos dar carona pra ele.

A Olguinha, que também era prima, a despeito de ser extremamente temperamental, adorava o primo Ulisses e replicou:

– Não é possível. É muito azar encontrar o Demi Margoso aqui.

E daí o Margoso foi até Vargem Alta, fedendo a cachaça e dizendo:

–  Dona Olga, mesmo a senhora sendo brava é gente muito boa.

Quando faltavam cerca de 10 km para chegar a Vargem Alta, Ulisses determinou:

Primo, quando chegar no trevo vamos abandonar o asfalto e entrar para Jaciguá.

Daí Olguinha replicou:

– Mas, Ulisses, vamos desviar mais de 15 km ainda por estrada de chão?

Ulisses, jeitoso, disse:

– Prima, é para lembrar por onde o nosso avô Felipe passava.

Voz de Ulisses era ordem.

Entramos pela estrada de chão e chegamos ao distrito de Jaciguá.

Paramos no bar Central para tomar umas geladas. Daí logo apareceu o famoso Chiquinho numa charrete de madeira puxada por um bode velho.

Chiquinho era tetraplégico, vítima de paralisia cerebral. Era muito querido na região e já havia enterrado três bodes que o conduziram por mais de cinquenta anos.

 Parou com a charrete na calçada e começou a conversar comigo.

– Si minino, cê sabia que essa charrete foi seu pai que me deu, em 1958, quando era vereador de Vargem Alta?

Subitamente, o bode começou a suspirar e balançar fortemente a cabeça de um lado para outro. Depois começou a arrastar as patas traseiras no chão.

O que que esse bode tem, Chiquinho?

– “Ah, si minino, é que todo domingo à tarde, lá no campo de futebol, eis dão cerveja pra ele. Agora ocês tão bebendo e ele tá sentindo o cheiro e querendo também. Dá uma pra ele que ele gosta.

Foi o bastante para o Ulisses pegar uma garrafa gelada de cerveja. O bode imediatamente abriu a boca e expandiu a mandíbula inferior para receber a “mamadeira”.

Depois da terceira garrafa, Chiquinho falou:

– Agora chega, si minino, porque quando ele bebe muito fica teimoso e respondão.

Deu uma leve chicotada no lombo do bode que saiu ziguezagueando pelas ruas de Jaciguá.

Demi Margoso, que já tinha tomado todas, e estava quase desmaiado dentro do carro, ao ver o bode bêbado, ziguezagueando pela avenida central de Jaciguá, gritou, do alto de sua renomada experiência etílica:

Chiquiiiinho, amanhã dá um chá de boldo pra ele.

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