Terça-Feira, 23 de abril de 2024

O Gordo - Por Sérgio David

Publicado em 06/02/2020. https://jornalterral.com.br/t-AKv

Entre 1997 e 2001 trabalhava na Universidade Estadual do Norte Fluminense, na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ. Durante esse período, todo final de ano, nas cerimônias de colação de grau, o mesmo sujeito era homenageado ou escolhido como paraninfo pelos formandos da UENF.

“O Gordo”, como era chamado carinhosamente pelos alunos, era o dono do trailer de sanduíches que ficava em frente a universidade e, por vender fiado, passou à condição de ídolo da estudantada.

Com o tempo, até o nosso grupo de samba, composto em sua maioria de professores universitários, passou a tocar nos happy hours, todas as segundas-feiras, no trailer do Gordo.

A despeito do carisma e das homenagens, o Gordo tinha, amiúde, problemas de acertos financeiros com seus clientes de fiados. Como no dia em que solicitou a minha presença, como professor de estatística, para servir de juiz em um impasse na cobrança de uma conta dos formandos de 1999.

Parece que uma ratazana teria roído parte do caderno de fiados e o Gordo, para não sair no prejuízo, fez a média das sete primeiras linhas não comidas pelo rato e a rmultiplicou pelas 26 linhas totais do caderno.

Aí os estudantes protestavam porque entre as sete primeiras linhas havia duas caixas de cerveja, o que contribuiu para a média da conta ter ficado muito alta. Depois de horas de discussão propus que o Gordo desse um desconto de 50% e aí o impasse foi resolvido.

A partir daí o Gordo virou meu amigo e, quando saía da universidade, não raro, passava no trailer para lanchar. Até que, numa bela noite chuvosa, não havia quase ninguém, parei e pedi um ‘Gordo Burger”, que era o podrão mais completo do cardápio. O Gordo esquentou a chapa e pôs o hambúrguer para fritar enquanto conversava comigo.

De repente, do meio dos empilhados pacotes de pães sai uma barata enorme, cascuda, de cor amarronzada, com antenas tateantes caminhando sobre a mesa de inox de onde se embrulhava o sanduíche. Imaginei o quanto seria constrangedor eu avisar ao Gordo da presença daquela repugnante cucaracha.

Assim, comecei, nervosamente, a puxar conversa para que ele não visse a dita cuja. Mas creio que a barata era estilo Daniela Mercury e queria por que queria aparecer. Balançava as antenas, insistentemente, ora para o cliente, ora para o proprietário.

Nisso, num átimo, o Gordo retira do ombro aquele pano de prato já amarronzado de tanta gordura e suor e “plaft”; esmaga a barata. Em seguida, com o dedo indicador e médio dá um peteleco na dita cuja e com o mesmo pano limpa aquela meleca marrom impregnada sobre o inox.

Volta o pano para os ombros e na maior tranquilidade, vira para o meu lado e pergunta:

– E aí professor, ‘tá confirmado o samba na segunda?

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