Domingo, 28 de abril de 2024

O Trote - Por Sergio David

Publicado em 05/11/2020. https://jornalterral.com.br/t-O4B

Corria o ano de 1973 e tínhamos acabado de ser aprovado no Vestibular da Universidade Federal de Viçosa, UFV, em Viçosa, MG.

Nos primeiro dias letivos é que mais sofríamos com os trotes dados pelos veteranos do “Carrasco”, “Alambike” e “Picareta”, clubes correspondentes, respectivamente, às turmas do segundo, terceiro e quarto ano da Universidade.

Já na nossa chegada rasparam as nossas cabeças e cavaram uma enorme vala próximo ao refeitório onde adicionaram água mais creolina para dar banho nos “Burros”. Entrávamos em fila indiana para o banho e na saída éramos obrigados a rastejar de quatro pelo pátio central do prédio principal.

Ao meio-dia, na porta do refeitório, recebíamos as placas com os apelidos para serem penduradas no pescoço durante todo o semestre.

Lembro-me perfeitamente que recebi o apelido de “Galinho da Serra” e estava todo feliz com o belo apelido diante dos “Diarréia”, “Monstrinho”, “Burro Branco”, “Bezerrinho”, “Mulão”, “KudoGui”  etc.

No segundo dia, no refeitório, o tal do “Luiz do Olho Roxo”, que era o presidente do Picareta, me olhou e perguntou:

– Calouro, você, por acaso, é parente do Fontana, que formou aqui pelo “Gato Preto”?

– Sim. Sou primo dele, por quê?

– Ele é capixaba como eu e casou com a minha irmã lá em Linhares, ES.

Quando pensei que isso soaria como proteção, ele, ao contrário, sentenciou:

– Ele aqui tinha o apelido de “Babaca” e me deu muito trote. Então você vai pagar por ele e de agora em diante vai ser o “Babaquinha”.

Pronto. Lá se foi a chance do belo “Galinho da Serra”.

A seguir me levou para o alojamento dos “Augustíssimos”.

Quando a porta se abriu, me vi frente a frente com os piores marginais do Picareta e Alambike: Pluto, Mamâe, Nilão, Bezerrinho e Mulão.

Esticaram um cobertor sobre a cama e iniciaram o carteado apostado. Por momentos até pensei que seria o “Crupier”.

Que nada! Deram-me um enorme relógio despertador e me colocaram dentro do armário. Em seguida ordenaram que a cada 15 minutos abrisse a porta e gritasse:

– Cuco... cuco... cuco!!!

E isso durou quase a noite toda.......

Depois de seis meses de trotes acabei ficando amigo sem deixar de ser o “garçom” deles.

Um dia escutei-os falando de uma famosa argentina chamada “Violeta Zarra” que abrigava-se na rua Francisco Machado, 59. Diziam maravilhas dos dotes físicos da tal Violeta. Que era sensual, de corpo magnífico, pele lisa e bronzeada, pernas torneadas, bumbum empinado e peito aprumado.

Depois de uns meses naquela secura de mulher em Viçosa, eu e o Baiano fomos ao quarto do “Mamãe” perguntar como era o esquema da tal Violeta.

Aí ele deu toda a dica:

– Olha, a Violeta é maravilhosa, porem é muito cara. Custa algo em torno de duzentos e cinquenta cruzeiros. De mais a mais é a mãe dela que atende à porta. A velha sabe do esquema, mas finge não saber. Portanto, vocês têm que ter paciência e esperar a velha sair para as compras.

Eu e o Baiano vendemos todos nossos tickets de refeição do mês e partimos para a Francisco Machado, 59.

Apertamos a campainha meio que trêmulos e com o coração a mil.

A velhinha apareceu à porta com um sorriso jovial:

– Buena noches caballeros. Bamos a entrar.

E serviu-nos um saborosíssimo chá quente de ervas argentinas.

Ficamos ali sentados no sofá por cerca de meia hora, até que a velhinha perguntou:

– Mais um chá caballeros?

– Si, si.

E nada da velhinha ir às compras.

La pras tantas, o Baiano se arretou e perguntou?

– Senõra, aonde está a Violeta?

– Violeta?

– Si, si, respondemos já impacientes.

 A velha levantou-se, foi à porta, bateu a tranca em seguida abriu a camisola e mostrou aqueles peitos magros e esticados até o umbigo e disse:

– Violeta? Violeta soy jo.

Foi o maior trote de nossas vidas.

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