Quinta-Feira, 25 de abril de 2024

Quem foi Hans Schmoger, que dá nome a importante avenida de Linhares?

Publicado em 22/05/2020. https://jornalterral.com.br/t-EB6

Uma das principais avenidas do bairro Nossa Senhora da Conceição é a Hans Schmoger. Ela começa num aclive meio acidentado ao lado da avenida Barra de São Francisco, atravessa o bairro e termina no Três Barras. É larga, arborizada e possui casas residenciais e pontos comerciais.

Afinal, quem foi Hans Schmoger? A resposta está nas páginas 112, 113 e 114 do Guia Histórico Geográfico das Ruas de Linhares, publicado em 1995 pela Editora Porto, numa iniciativa da Serlihges (Seccional Regional de Linhares do Instituto Histórico Geográfico do Espírito Santo).

O livro foi escrito pelos seguintes membros da Serlihges: Patrick Mário Calmon Holliday, Therezinha Durão Costa, Arlêne Campos, Maria Cilda Soares da Costa, Maria Lúcia Grossi Zunti, Maria Tereza Lopes e Antônio Bezerra Neto.

Consta na obra que Hans Schmoger nasceu na Alemanha pouco antes de 1900 e faleceu em Vitória em 27 de julho de 1965. Vindo para o Brasil, residiu primeiro em Baunilha, distrito de Colatina, mudando-se para Linhares em 1920. Antes, fora 1º tenente do exército alemão; atuou na Primeira Grande Guerra, que ocorreu de 1914 a 1918, e concluiu, ainda na Alemanha, o curso de Farmácia.

O livro informa que Hans veio para Linhares com o irmão Carlos, que ficou por aqui por pouco tempo, retornando ao país de origem. Hans, entretanto, permaneceu. Montou sua farmácia “Progresso” na Rua da Conceição e o prédio onde ela funcionou. Alugou casa em frente, onde residiu por uns tempos, até construir sua própria residência que, mais tarde, vendeu para Gastão Calmon.

Com o tempo, Hans passou a ser chamado de João Alemão. Após alguns anos no município, ele retornou à Alemanha para uma visita e lá casou com Margareth, que veio para Linhares mais tarde. João preparou festa para recebê-la – até com cerveja resfriada, depositando as garrafas em sal grosso – e aqui viveram por bastante tempo com a filha que tiveram: Doris.

O guia registra que, com sua bem montada farmácia, João Alemão prestava socorro médico à população. Era um “faz tudo” na área. Hábil, jeitoso, para tudo tinha remédio e solução. Para atender a população que vivia afastada do centro da vila, mais tarde cidade, possuía mula que chamava de “Ingrata”, mantida num cercado na antiga chácara “São Joaquim”.

Este cercado ficava onde hoje é a Rua Rufino de Carvalho. Se era chamado para fazer um parto à noite ou de dia, fora da cidade, selava a mula e ia atender. Os remédios vinham de Vitória até Colatina. Depois, de barco: Colatina-Linhares. Também comprava de representantes de laboratórios que por aqui passavam regularmente.

Possuía também excelente material para manipulação, fazendo ele mesmo remédio, poções e pomadas. Era ortopedista nato, como um dom. No livro, Gastão Calmon ilustra a afirmação com dois fatos. Primeiro, de um trabalhador da fazenda Bugrinha que teve uma das pernas esmagadas por tronco de árvore. João Alemão remendou tudo, enfaixou, encanou numa telha-canal e o homem ficou bom. Manco, mas não perdeu a perna e trabalhou ainda durante muitos anos.

Outro fato aconteceu com Joaquim Calmon Filho, que teve uma das mãos praticamente estraçalhada em moenda-de-cana de um engenho que o pai usava para produzir melaço e fabricar a famosa cachaça “Guarani”, que engarrafava. A mão foi recuperada com perícia por João Alemão.

Além de farmacêutico-médico, João Alemão apreciava uma boa caçada. Desde 1930, caçava, principalmente, na região conhecida hoje como lagoa Durão, local apreciado pelos adeptos da caça, pois não havia ladeira para subir no meio da mata. Seus primeiros companheiros de caçada foram: Antonio Simplício dos Santos, Frederico da Silva Calmon, Antenor Ferreira Gomes e Francisco Nogueira da Gama.

Somente a partir de 1954 Gastão Calmon começou a acompanhar João Alemão nas caçadas, que eram muito bem organizadas. Depois, outro linharense se incorporou ao grupo: João Ubaldo de Souza (o João Barbeiro). Tinha ainda um excelente cozinheiro: Darque Rocha.

Segundo Gastão, quem custeava suas próprias despesas na caçada, comia em mesa bem improvisada, com cobertura de toalha e tudo o mais e entrava na divisão da caça que sobrava. Para isto, levavam cerca de 40 kg de banha de porco para acondicionar a carne, após fervida ou cozida. Quem não custeava suas despesas, comia de prato na mão e não participava da divisão da carne.

João Alemão possuía ainda um terreno na lagoa Juparanã para onde ia na sua canoa com motor de popa. Esta propriedade tinha a hoje praia do Mosquito, onde ficam as instalações do Linhares Esporte Clube.

Havia também o famoso “salão do João Alemão”, um armazém que ele construíra aos fundos de sua própria residência, ficando o tal armazém de frente para a Rua Boa Vista. O “salão” era alugado para festas, para bons e animados carnavais que ali se dançou e onde reuniões importantes se realizaram, como a reunião na qual se criou, em 1948, o América Futebol Clube de Linhares.

A avenida Hans Schmoger segue imponente no bairro Nossa Senhora da Conceição, “assim como continua viva a memória dos bons serviços prestados pelo Hans [João Alemão] à população linharense”, finalizam os autores do Guia Histórico Geográfico das Ruas de Linhares.

 

Daniel Porto - TERRAL

A avenida Hans Schmoger (João Alemão) começa ao lado da avenida Barra de São Francisco, atravessa o bairro Nossa Senhora da Conceição e termina no Três Barras

 

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