Meados da década de 1990 e dois notáveis agrônomos são convidados para abrilhantar os festejos do distrito de Santa Júlia, município de Santa Teresa, região serrana do Espírito Santo. São eles: Walter José Mathielo (in memoriam) e Antônio Élio Zanotti. O primeiro, na época secretário de Estado da Agricultura; e Zanotti, presidente da Emater-ES (hoje Incaper).
Lá pela tantas, o Zanotti, como ilustre filho da terra é convidado a apitar a partida de futebol entre o Santa Júlia F. C. e a equipe visitante do E. C. São Roque.
Jogo truncado, violento, disputa de troféu, estádio cheio, torcida nervosa e o placar não sai do 0 x 0 no tempo normal. Eis que no último minuto da prorrogação Zanotti marca um pênalti a favor do Santa Júlia daqueles de fazer inveja ao Eurico Miranda.
Totonho “Papa-Égua”, centroavante cascudo e dotado de temível e poderosíssimo chute, coloca a bola na marca da cal. Toma distância até o meio do campo, limpa as travas da chuteira no poste da Escelsa, inadvertidamente colocado no meio do campo, corre em direção à baliza, sem rede, e dispara com toda a potência de seus dotes zoofílicos.
A bola passa como um foguete, pra fora, raspando a baliza superior esquerda de Zé Bebelo.
Zanotti, movido pela paixão juliense, corre imediatamente para o centro do campo, assinalando o gol, mas o assistente permanece, impávido, na linha de fundo, com o mastro amarelo levantado. Confusão geral. Zanotti, suado, consulta o bandeira, olha para o padre, para o prefeito e pensa em retificar a decisão.
Porém, a torcida do Santa Júlia começa a pressionar e invadir o campo com paus, pedras e peixeiras. No clímax do sufoco, em meio ao empurra-empurra, solavancos e pescoções, Zanotti resolve, no desespero, perguntar ao goleiro do São Roque se foi gol.
– Claro que não, seu juiz. O sinhô num tá vendo que passou mais de meio metro pra fora;
Zanotti não desiste e com a sagacidade e velha manha de extensionista encara o guarda meta e pergunta:
– Escuta aqui ô Zé Bebelo. Fale a verdade, se fosse dentro do gol você pegava?
Zé Bebelo, que na verdade se chamava Marivaldo e era dublê de goleiro e datilógrafo do escritório Local da Emater olha para o chefe Zanotti, olha para o Mathielo e, meio que constrangido, balbucia:
– Acho que não!
Zanotti então, para o alívio e aplauso geral da galera, corre para o centro do campo e, de peito estufado e com determinação rouseffiana, sentencia:
– Então foi gol!!