Por Aguinaldo Luiz Giuriatto
Fotos: Divulgação
A pescaria reuniu 21 componentes, sendo 11 de Rio Bananal: Nivaldo Dias, André Fantin, Diego C. Periato, Moisés Mariano Neto, Geraldo Bazoni, Cláudio R. Marangonha, José E. Marangonha, Jéferson Gramelick, Assis Moreira, Adair Agnoleti e José Endringer; quatro de Linhares: Aguinaldo Luiz Giuriatto, Marcelo Novelli, Vinícius B. Loureiro e Amarildo N. Loureiro; dois de Governador Lindeberg: Norival L. Coradini e Firmino Soteli; e Dirceu J. Nicoletti (Santa Teresa), Márcio Bozi (Sooretama), Adelmo J. Cesconeto (Vila Valério) e Gil Pezzin (São Mateus). Também aparece na foto o barman Ferreirinha.
Para muitos, um sonho, para outros, uma aventura. Entre sonho e aventura, todos nós deixamos nossa imaginação fluir; como imaginação é real para a mente, grandes emoções são antecipadas e vivenciadas. Com estes sentimentos, nos deixemos voltar, nestes primeiros dias pós viagem, à realidade nossa de cada dia, guardando indelével as emoções e as lembranças daqueles dias intensamente vividos.
Entre os dias 4 e 11 de agosto um grupo de 21 pessoas, muitos já conhecidos entre eles, outros não, partiu de suas casas rumo à Amazônia. Superada toda aquela tranqueira de check-in, apreensão até, de Vitória-Guarulhos a Manaus, na manhazinha do dia 5 já embarcaríamos, na Marina ‘Bicho Preguiça’, em Manaus, no Barco ‘Mãe Maria IV’, rumo ao nosso objetivo.
Após um bom café a bordo, e as escolhas dos parceiros de quarto e dos piloteiros, sol despontando, iniciamos a subida pelo Rio Negro; alguns quilômetros acima, o encontro com o Solimões e a lenta mistura das águas. Lembramos da ‘pororoca’ e, à vista, a imensidão do Rio Amazonas, o segundo maior do mundo, o primeiro em volume d’água, carregando em seu ventre toda a natureza para o mar, na ilha do Marajó.
Uma jornada de pesca
Veja como era sucintamente o dia de pesca. Começava após o café das 5 da manhã. Ainda escuro, ao redor do barco, os piloteiros já estavam a postos. O barco disponibilizava os itens necessários à pesca: varas, anzóis e, claro, uma caixa de ‘primeiros socorros’: água, refrigerante e cervejas.
Cada dupla, com seu piloteiro, ia entrando e partindo para sua pescaria. Os pontos eram sempre indicados por eles, já que (deveriam) ter mais conhecimento e experiência do que aqueles novatos pescadores, em sua maioria.
O barco Mãe Maria IV, com seus 30 metros de comprimento e 6 de largura, ia desenhando sua trajetória no balanço das ondas, rio acima/rio abaixo. Confortável em seus quatro andares, além dos visitantes, transportava uma tripulação de 18 pessoas: o comandante e um mecânico de manutenção, 11 piloteiros, além de duas cozinheiras, uma arrumadeira e a filha do dono.
Não vamos esquecer do nosso ‘barman’, o Ferreirinha, muito eficiente e que nada deixava faltar: de água a bebidas e variados tira-gostos. Drinks diferenciados saiam de seu repertório. A alimentação, desde o café da manhã, tudo era muito bom. A cerveja, pelas preferências à parte, deu lá seus entreveros, contudo, no final, tudo acabou bem.
Piloteiro
Piloteiro é aquele sujeito de maior experiência (deveria!), encarregado da manutenção específica do parco – lancha média com seu motor (15-20 Kv), com bons espaços e cadeiras para dois pescadores. Ele cuida das ferramentas da pescaria, da caixa de ‘primeiros socorros’, enfim, é a pessoa ideal para conduzir os pescadores aos melhores pontos; cuidar das iscas, da troca de anzóis etc.
Segundo o comandante do barco, “a organização da viagem, suprimentos, roteiros e colaboradores passam por rigorosa inspeção”. Há 42 anos na profissão, seu Edimar Gomes (62 anos), não é homem letrado, mas é extremamente competente e dá a vida pelo seu trabalho. Assim também os demais piloteiros, uns com mais experiência, outros com menos, mas todos imbuídos do mais alto desejo de ajudar o pescador.
Premiação das duplas
Para manter a motivação e suscitar uma certa competição (sfida), criou-se a premiação para o maior (em cm) peixe de couro e, também, o maior tucunaré. Houve até quem sustentasse – e contando muito marra quase até no final da pescaria - que seria o vencedor. Até meio frustrados, tiveram que ceder mesmo aos campeões. As duplas que levaram mesmo a premiação foram:
Tucunaré-Pinima – A dupla André Fantin e Diego Periato levou a premiação. O exemplar media 68cm e cerca de 7 kg. Fantin se expressa assim: “É indescritível. Ficará na memória para sempre. É um sonho realizado”.
Pirarara - A dupla Gil Pezzin e Adelmo Cesconeto levou a premiação do maior peixe de couro. Neste caso foi uma pirarara de 102 cm e cerca de 21 kg. Segundo Gil, que a embarcou, “pegar um peixe grande assim foi um sonho. Foi uma puxada bruta. Sorte que levou para o centro e facilitou. Foi demais”,
Curiosidade
Via-se muitos casebres de ribeirinhos, simples, feitos de madeira e altas, em razão das constantes cheias. Tinham energia e, inclusive, internet em grande parte, e vimos muitos celulares. E por falar em Internet, a gente usou do barco, falando ao celular e também mandando e recebendo mensagens de WhatsApp, numa boa.
Vimos passar muitos barcos e barcaças carregando carros, caminhões, combustível etc. Também barco escola e um barco bem grande chamado de ‘Médicos Americanos’, que levam atendimento aos ribeiros – assistência médica, enfermagem, cestas básicas etc. São missões de médicos americanos. Será só isso!? Tirem suas conclusões.
Em relação à fauna, viu-se poucas aves e outros animais, como jacarés, capivaras.... Segundo disseram, por ser ainda um período de meia cheia, os animais estão bem dispersos, inclusive os peixes.
Também não dá para esquecer a famosa lenda do Boto Cor de Rosa. Sobre a lenda, o comandante assim se expressou: “Mocinhas, quando se banham nuas às margens do Amazonas, costumam ficar grávidas”. Claro, a culpa é do Boto.
A solidariedade
Um espírito de grande solidariedade se percebeu entre os ribeirinhos, e também pelos barcos e visitantes que circulam por aí. Presenciamos a busca de socorro a uma mulher grávida; alimentos para famílias pobres distribuídos etc.
Todos os participantes do nosso grupo fizeram importantes contribuições a toda a tripulação, especialmente aos piloteiros. Além de o prêmio ter sido dividido com os dois piloteiros, cujos barcos participaram da premiação.
Com relação ao nosso grupo de pescadores (amadores), houve uma verdadeira confraternização. Entre as brincadeiras, resenhas e estórias, havia uma forte amizade. Este é um ponto forte: tornar o outro seu amigo! Feliz de quem tem amigo; é um verdadeiro tesouro.
Tudo que é bom dura pouco
Após quase 50 horas de retorno; a bela vista da Manaus noturna já se fazia perceber: pôr do sol, ponte, refinaria, porto ... tudo a se refletir nas águas turvas do Rio Negro, ainda a nos acompanhar. O Mãe Maria ancorou e já tudo acertado para uma visita rápida ao Centro de Manaus.
Visita externa rápida ao Teatro, Igreja, bela praça, bares com danças típicas... E a famosa ponte Rio Negro, hoje ponte Jornalista Fhelippe Daou. É a segunda maior ponte fluvial do mundo, com seus 400 metros de seção suspensa por cabos.
Cenas ribeirinhas
A pobreza é acentuada. Um grupo foi visitar uma das famílias ribeirinhas e lá encontrou pobreza e muitos filhos. Numa casa, novos filhos e quase nada dentro. Alguns alimentos foram levados e deixados como auxílio.
Outra cena marcante se refere às casas flutuantes, típicas do Amazonas, para os ribeirinhos. As casas podem ser deslocadas de acordo com a conveniência dos moradores.
O Rio Amazonas
O Rio Amazonas nasce no Peru (Cordilheira dos Andes), passa pela Bolívia e chega ao Brasil. Sua extensão e próxima 7.000 km. Entre Manaus e o ponto mais distante da pesca, percorremos cerca de 700 Km. No retorno, em viagem sem parada, demoramos umas 45 horas. Haja resenha e ‘narrativas’ a bordo!
Pegamos um período de muita água; os rios ainda estavam espalhados por imensidão de alagados. Às vezes nos víamos no meio do nada: água, céu e vastidão de alagados e encostas. Lua não adequada e muita água reduzem a pesca.
Saindo de Manaus, tirando as reservas indígenas, muitos ribeirinhos desfrutam daqueles espaços de vistas lindas a se perderem. Há povoamentos às margens dos rios; pequenos municípios e muitos moradores esparsos.
Quase sempre uma casinha simples, alta do chão por conta dos alagamentos e pouco cultivo de frutas, hortaliças, cereais... Alguns animais e bastante búfalos. Vimos também o encontro do Rio Negro com o Solimões e a famosa Pororoca.
Agradecimento
Um agradecimento especial a Deus – que nos permitiu que tudo saísse bem. E também aos nossos familiares, que torceram por nós e, embora de longe, sempre estavam por perto a nos incentivar e desejar tudo de bom! Abraços a todos.
Claro que, no geral, nossos objetivos foram atingidos. Conhecer o Amazonas, sentir de perto aquela natureza toda, com suas abundantes águas, matas, fauna e flora.
Apesar de não ter sido abundante o resultado da pesca – embora muitos e até grandes peixes tenham sido pescados -, só o fato de estar ali, deslizando sobre uma imensidão de águas, em contato com a natureza, participar da pescaria, da farra, do ambiente de descontração e amizade entre os visitantes e também com a tripulação, especialmente com os piloteiros, tudo valeu.
Muitos já anteciparam o desejo de retornar.
Também devemos elogiar o ambiente geral: acomodações, alimentação, bebidas... a convivência com a tripulação, tudo foi muito legal.
Algumas críticas e sugestões foram feitas ao comandante e aos responsáveis; por exemplo: questão das cheias, fase da lua, dispor de um ‘kit de pesca mais apropriado’; e proporcionar treinamento aos piloteiros mais novos para que tenham mais assertividade nos pontos de pesca.
Até a próxima. Forte abraço a todos. Agosto, 2023
Aguinaldo Luiz Giuriatto
algiuriatto@yahoo.com.br
Psicanalista, escritor e filósofo - (27) 99984 6827