Quinta-Feira, 14 de novembro de 2024

Afinal, quantos anos Linhares deve comemorar?

Publicado em 27/08/2022. https://jornalterral.com.br/t-k45

Walter Garbe

Os primeiros habitantes de Linhares e região foram os índios

Por Daniel Porto

Todo ano, quando agosto se aproxima e Linhares se prepara para comemorar o seu aniversário, várias polêmicas surgem, com muitos questionando quantos anos têm o município e os critérios utilizados para definir tal idade. O assunto é complexo e não há aqui a pretensão de esgotá-lo. A abordagem tem como objetivo apenas disponibilizar informações que podem contribuir de alguma forma com os nossos leitores.

Muitos consideram 1800 como o ano de fundação do município, período no qual colonos brancos e mestiços passaram a morar na região, protegidos por quarteis e soldados do Império. Porém, estudiosos defendem a valorização dos índios que, antes disso, já habitavam a região – e seus descendentes resistem até os dias atuais.

Há ainda quem queira comemorar a primeira emancipação político-administrativa, que ocorreu em 2 de abril de 1833 e elevou Linhares à categoria de Vila, com a instalação da Câmara de Vereadores no dia 22 de agosto daquele ano. Como a Vila perdeu a independência em 1921, muitos preferem a segunda emancipação, efetivada em 31 de dezembro de 1943.

São quatro possibilidades, portanto, para efeito de comemoração: antes de 1800, em virtude da presença de índios na região; 1800, em razão do início da ocupação por parte de colonos; 1833, por ocasião da primeira emancipação político-administrativa, e 1943, ano da segunda emancipação – e nomeação do médico Roberto Calmon como primeiro prefeito de Linhares.

Os primeiros habitantes de Linhares foram os índios, cujos descendentes vivem até hoje em localidades como Povoação e Regência. Há também uma aldeia em Areal, na região de Regência, e o Território Quilombola de Degredo, que fica perto do balneário Pontal do Ipiranga e foi certificado pela Fundação Cultural Palmares. Os quilombos abrigavam pessoas escravizadas que fugiam de fazendas, minas e casas onde eram exploradas.

Para o ambientalista Hauley Valim, os indígenas devem ser homenageados sempre, porque driblaram as políticas de extermínio do Império e permanecem vivos e resistindo. “Ao Conde de Linhares, que declarou guerra a essas populações, a condenação dos homicidas”, registrou numa rede social.

No livro Espírito Santo Indígena, a escritora Vânia Maria Losada Moreira destaca que não se pode compreender o que era o Espírito Santo colonial e imperial sem os índios, pois eles eram parte vital e atuante na sociedade. “Numericamente expressivos na composição da população regional, os índios influenciaram direta e indiretamente muitos aspectos da organização social local e são parte integrante da experiência histórica brasileira”, enfatiza.

Outros livros dão ênfase à história de Linhares a partir de 1800, quando, para proteger os moradores (e outros que viriam) dos índios, o governador da Capitania do Espírito Santo, Antonio Pires da Silva Pontes, subiu o Rio Doce, a partir da sua foz, e fundou vários quarteis militares. Primeiro, o de Regência Augusta, nome dado em homenagem a D. João VI que, na época, era Regente em Portugal.

Aproximadamente 40 quilômetros acima, fundou o Quartel Coutins, nome dado em homenagem a Dom Rodrigo de Souza Coutinho, Senhor de Pancas e Coutins, em Portugal, ministro da Marinha e Negócios Ultramarinos do Reino, que incentivara de longe a abertura da navegação fluvial e povoamento do rio.

Em volta desse quartel surgiu uma modesta povoação, que foi atacada várias vezes pelos índios e destruída em 1808, quando os soldados haviam se ausentado para acudir outro povoado rio acima.

Nesse mesmo ano, outro governador da Capitania, Manoel Vieira de Albuquerque Tovar, subiu o rio e reconstruiu o quartel e o povoado, dando então o nome de Linhares, uma vez que Dom Rodrigo, naquela época, tinha sido agraciado com o título de Conde de Linhares, pois mudara com a Família Real para o Brasil, isto também em 1808.

Em 1809, o governador convidou lavradores que quisessem se estabelecer em Linhares, oferecendo vantagens. João Filipe Du Pin Almeida Calmon, proprietário de terras entre Itapemirim e Benevente, veio para Linhares com a família em novembro daquele ano.

Em 1827 teve início o processo de emancipação político-administrativa de Linhares, e no dia 2 de abril de 1833, tendo o povoado 713 habitantes, foi elevado à categoria de Vila. No dia 22 de agosto de 1833 instalou-se a primeira Câmara de Vereadores do município recém-criado. À época, a Câmara Municipal era a representação do governo local.

No início do século XX, Linhares enfrentou muitos problemas econômicos e dificuldades de transporte e abastecimento, provocados, principalmente, pela instalação da Estrada de Ferro Diamantina, cujo traçado passava por Colatina (Colatina, Baixo Guandu e parte dos municípios de Ibiraçu, Santa Teresa e Itaguaçu eram patrimônio de Coutins, que havia sido denominado Linhares).

O abalo econômico levou a sede do município para Colatina e a perda da independência da Vila de Linhares, em 1921. A partir daí, até dezembro de 1943, Linhares passou a ser distrito de Colatina. O investimento no plantio de cacau e os esforços dos governadores Jerônimo Monteiro e Nestor Gomes despertaram o interesse de agricultores por meio de situações atraentes para maior desenvolvimento da lavoura.

Com base nos resultados positivos verificados na vida econômica de Linhares, o município foi recriado em 31 de dezembro de 1943, por meio do Decreto nº 15.177, assinado pelo então governador Jones dos Santos Neves. Roberto Calmon, primeiro filho de Linhares a se formar em medicina, foi nomeado primeiro prefeito do município.

A data festiva foi instituída pelo então prefeito Joaquim Calmon em 15 de agosto de 1951 e fixada em 22 de agosto em virtude de sua primeira emancipação.

Observa-se, portanto, que Linhares teve duas emancipações, sendo a primeira em 1833 e a segunda em 1943. Por essa razão, havia sempre um questionamento: afinal, o correto seria comemorar a primeira ou a segunda emancipação?

Diante dessa polêmica, na década de 1990 um grupo se reuniu para discutir o assunto e, liderado pela professora e escritora Maria Lúcia Grossi Corrêa Zunti, defendeu que, para efeito de comemoração de aniversário, Linhares deveria considerar 1800, ano no qual colonos chegaram à região. A sugestão foi acatada por muitos, que passaram a adotar tal data como a de fundação do município.

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O ambientalista Hauley Valim na Aldeia Indígena de Areal do Rio Doce

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