Arquivo TERRAL
Os moradores de Linhares sofrem com a falta de uma rodoviária
As muitas brigas políticas que ocorrem em Linhares prejudicam os moradores do município e impedem a chegada de obras importantes. Para evitar que determinado grupo possa crescer politicamente, quem está na oposição trabalha contra os benefícios – e a instalação de equipamentos, atrapalhando a população.
O problema é histórico e gera muitos burburinhos na cidade. Um dos casos conhecidos envolve a discussão em torno de um possível estádio municipal. Ao assumir a prefeitura de Linhares, em janeiro de 2005, José Carlos Elias disse que o município contava com recursos federais, viabilizados por meio de emenda parlamentar, e que poderia construir a praça de esportes.
O local escolhido seria onde funciona o parque de exposições, no bairro Interlagos. A área pertencia ao Sindicato Rural Patronal e deveria ser cedida, por meio de permuta, para a administração municipal Alguns vereadores de oposição criaram dificuldades e, por fim, as negociações não avançaram.
O caso da rodoviária é mais emblemático. Teve início na década de 1970 e é discutido até os dias atuais. Em novembro de 2020, após ser eleito prefeito de Linhares pela quinta vez, Guerino Zanon chegou a dizer que a construção de uma estação rodoviária era um dos principais projetos que pretendia colocar em prática.
Ao portal Em Dia ES, em 23 de novembro de 2020, Guerino afirmou: “Estamos procurando uma área ideal para receber as obras da rodoviária”. Ele deixou o cargo em 31 de março deste ano.
Além do estádio e da rodoviária, outras obras relevantes para Linhares também ficaram pelo caminho, como a construção da unidade administrativa da Petrobras e a instalação de uma extensão da Ufes, anunciadas para Linhares e implantadas em São Mateus.
Um caso em questão começou com problemas e, em razão de outras circunstâncias, teve final feliz. No início da década de 1980 foi iniciada em Linhares a construção de uma escola técnica federal (hoje Instituto Federal do Espírito Santo, Ifes) e a obra foi abandonada ainda no alicerce.
O desejo da população, no entanto, foi concretizado em 2008, com o funcionamento do Ifes campus Linhares. A prefeitura doou a área e o imóvel e o governo federal assumiu os demais custos. Na época, o prefeito era José Carlos Elias (gestão 2005-2008) e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (gestão 2007-2010).
Construção de rodoviária se arrasta desde a década de 1970
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Página do Jornal TERRAL de 2014 divulgando a (possível) obra
Durante a sua primeira gestão como prefeito de Linhares, no período 1973-1976, Samuel Batista Cruz mandou colocar uma placa perto do parque de exposições, entre os bairros Interlagos e Novo Horizonte, com os dizeres: “Futuras instalações da rodoviária de Linhares”. Polêmica vai, polêmica vem, a obra ficou só na placa.
Em outubro de 1980, um estudo divulgado pela então Fundação Jones dos Santos Neves, hoje Instituto, destacava a necessidade de uma estação rodoviária e indicava até o local adequado: nas três quadras vagas: entre a BR-101 e as ruas Rufino de Carvalho e Augusto Pestana e a avenida Augusto Calmon, no Centro da cidade.
“Na área disponível, atualmente de propriedade particular, poderia, além da rodoviária, ser instalado, também, o terminal de transporte coletivo urbano”, registrava o documento. Na época, Linhares contava com 63 mil habitantes e gerava uma demanda por transporte coletivo interurbano e intramunicipal significativa, com 107 chegadas e 107 partidas por dia.
Os veículos pertenciam a sete empresas diferentes, embora a maior concentração de linhas estivesse somente com duas empresas: a Joana D'Arc, no caso dos ônibus intramunicipais, e a Águia Branca, no caso dos ônibus regionais, atendendo o norte do Estado e o sul da Bahia.
Nas décadas seguintes, autoridades – e secretários municipais – chegaram a conceder entrevistas dizendo que tinham projetos prontos visando à construção da desejada rodoviária.
No primeiro governo de José Carlos Elias (1993-1996), o vice-prefeito Ronaldo Lopes chegou a fazer um movimento para que o estádio Joaquim Calmon, no bairro Shell, fosse desapropriado, para abrigar a rodoviária no local. Na segunda gestão de Elias (2005-2008) um secretário disse que havia um estudo para construir a rodoviária no bairro Aviso, perto do Sesi-Senai.
Em julho de 2014, na gestão do prefeito Nozinho Corrêa (2013-2016), o secretário de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Rodrigo Paneto, anunciou a intenção de construir um terminal rodoviário às margens da BR 101, no KM 146, sentido bairro Canivete-Centro, próximo ao aeroporto. A obra teria capacidade para atender até 600 mil embarques por ano, numa área de 40 mil metros quadrados e 15 mil metros de área edificada, entre outros detalhes.
A área pretendida pelo município seria objeto de desapropriação ou permuta. O projeto gerou polêmica na câmara, com vereadores de oposição questionando o possível negócio, e chegou ao ministério público. Por fim, nada foi concretizado.
A obra continua sendo reivindicada pelos moradores de Linhares e região. Eleito em novembro de 2020, o prefeito Guerino Zanon chegou a afirmar que estava procurando uma área ideal para receber as obras da rodoviária. Porém, deixou o cargo em 31 de março deste ano.