Os estádios Joaquim Calmon e Guilherme Augusto de Carvalho materializavam
uma parte emblemática da história da cidade, agora condenada ao esquecimento.
Por José Carlos Leite
A inauguração do Superatacado SempreTem, da rede Carone, prevista para acontecer nos próximos dias, representa o apito final de uma derrota dura para o esporte e a história de Linhares, em que pese a importância sócioeconômica do empreendimento, que empregará 230 pessoas na cidade.
As amplas e modernas instalações do superatacado, cujas obras estão em fase final, sepultaram em toneladas de entulho de demolição o Estádio Joaquim Calmon, maior símbolo e patrimônio da septuagenária história do América Futebol Clube.
Curiosamente, o fim em tela é o mesmo que teve, há 17 anos, o Estádio Guilherme Augusto de Carvalho, do Industrial Esporte Clube, arquirrival do América nos tempos áureos do futebol linharense. Em 2003, o ‘Guilhermão’ foi demolido para dar lugar ao hipermercado Casagrande.
Fundados no início da década de 1950 – o América em 1951 e o Industrial dois anos mais tarde -, os dois clubes protagonizaram uma das maiores rivalidades do Espírito Santo. Localizados às margens da rodovia BR 101, a menos de um quilômetro de distância um do outro, os estádios foram palcos de participações memoráveis das duas equipes em campeonatos estaduais, sobretudo na década de 1970.
Os derbies entre América e Industrial atraiam grande público e movimentavam a cidade. O América reunia membros de famílias mais tradicionais e era considerado o clube da elite, enquanto o Industrial tinha maior identificação nas camadas mais populares. Era o time da massa!
A união dos dois clubes no início da década de 1990, desfeita anos mais tarde, deu origem ao Linhares Esporte Clube, levando torcedores do município a comemorarem quatro títulos estaduais: em 1993, 1995, 1997 e 1998. E um clube quase homônimo, o Linhares Futebol Clube, conquistou o campeonato capixaba de 2007. Em todos os casos, as conquistas ocorreram no Estádio Joaquim Calmon ou no Estádio Guilherme Augusto de Carvalho.
Com o passar dos anos e o crescimento de Linhares, as áreas dos estádios ficaram mais valorizadas e cobiçadas. O enfraquecimento do futebol local e dos clubes, e a omissão do poder público, contribuíram para que o município não tenha hoje sequer um estádio de porte.
A única equipe profissional em atividade, o Linhares FC, sobrevive em condições de penúria e está na segunda divisão do campeonato capixaba.
Essa parte emblemática da história de Linhares, que durante décadas esteve materializada nos estádios Joaquim Calmon e Guilherme Augusto de Carvalho, a partir de agora está restrita às fontes de pesquisa e à memória dos que tiveram o privilégio de participar das trajetórias de América, Industrial e, por último, do Linhares.
O Linhares EC nasceu em 15 de março de 1991, resultado da fusão do futebol profissional dos, até então, arquirrivais América e Industrial. Os anos seguintes foram gloriosos: quatro títulos estaduais na década e um inédito quarto lugar na Copa do Brasil, em 1994, até hoje o melhor resultado de um time capixaba em competições nacionais.
Os problemas de gestão custaram em 2003 o Estádio Guilherme Augusto de Carvalho, patrimônio do antigo Industrial. Mergulhado em dívidas, o Linhares EC não evitou o leilão do estádio na justiça. O comprador foi a rede de supermercados Casagrande, que construiu no local um hipermercado.
Na época da união, depois desfeita, os sócios do América concordaram com a união do futebol, mas não aceitaram a inclusão do patrimônio, o que livrou o clube de responsabilidade nas dívidas do Linhares e, consequentemente, preservou o Estádio Joaquim Calmon.
A maior derrota imposta ao América em seus quase 70 anos de existência ocorreu em 2018, quando herdeiros do ex-prefeito Joaquim Calmon venderam o terreno do estádio ao grupo Carone por cerca de R$ 20 milhões, propiciando a construção do Superatacado SempreTem. A negociação foi alvo de críticas e a venda chegou a ser questionada na justiça.
Fotos: Arquivo TERRAL
O Estádio Guilherme Augusto de Carvalho deu lugar ao Hipermercado Casagrande
O Estádio Joaquim Calmon foi demolido para a construção do Superatacado SempreTem, da rede Carone