Por Wilton Júnior
A professora e escritora Josmari Araújo dos Santos nasceu e mora em Linhares. É licenciada em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo e especialista em Recreação pela Universidade Federal do Paraná, além de pós-graduada em Natação para Bebês pelo Serviço Educativo Argentino, em Buenos Aires.
Além da sólida formação acadêmica e profissional, Josmari é referência no Espírito Santo quando o assunto é contação de histórias, uma forma didática que ela encontrou para disseminar por onde passa, a cultura, o folclore e detalhes talvez ainda desconhecidos de personagens de Linhares que fazem parte do imaginário popular.
Josmari começou a trabalhar aos 14 anos, de forma voluntária, na alfabetização de adultos. Hoje, acumula histórias encantadoras para um público diversificado que, na era digital, deixa a tecnologia de lado para ouvir detalhes dos casos que ela apresenta com fascínio, chamando a atenção de gerações distintas.
“A essência de narrar não mudou. Houve um avanço tecnológico que deixou as pessoas atreladas ao mundo digital. Porém, nas escolas onde atuei e faço as minhas apresentações é proibido o uso do celular. Alguns podem não gostar da minha exigência, mas ressalto que prefiro que não usem o celular naquele momento”, disse.
Conforme Josmari, mesmo no mundo dos smartphones, iphones, computadores, mídias digitais e redes sociais, ela continua reunindo um público fiel. “Acredito que um dos principais benefícios proporcionados pela arte de contar histórias é o resgate da narrativa tradicional, do folclore e das linguagens múltiplas que ainda existem”, frisa.
A professora e escritora confessa que é apaixonada pela literatura e pela leitura, e por isso já publicou seis livros: Chico Boneco (2001), João da Santa (2002), Irene (2003), Brincadeira de Criança é Brinquedo Sim! (2004), Zé da Lata (2007) e O Rio Doce e Vovó Malico (2015).
Ela informa que todos são adaptados em braile, com exceção de Irene, que é adaptado em libras, destacando que suas obras são referência em escolas municipais como meio didático para os deficientes visuais e aos alunos com deficiência auditiva.
“Decidi utilizar a literatura e a contação de histórias para mostrar às pessoas que alguns personagens de Linhares tinham que ser lembrados. A partir do momento que escrevi esses livros, as escolas públicas e privadas passaram a trabalhar com a minha obra literária, de forma didática, do jardim de infância até nas faculdades”, comemora.
Josmari lembra que seus personagens eram pessoas comuns, mas a partir do momento que viraram temas literários surgem a cada dia testemunhos que lembram quem eram e o que faziam, rememorando os costumes, reforçando o folclore e resgatando a cultura da cidade.
Para a professora Eliana Mendes, a obra de Josmari tem extrema relevância para o meio estudantil. “O trabalho dela como escritora e contadora de histórias se tornou fundamental para difundir para os alunos o folclore local, e isso é importante para que eles saibam que já existiram o Chico Boneco, a Irene, o João da Santa e o Zé da Lata, e virão outros por aí, com certeza”, comentou.
A aluna Maria Eduarda Cruz Santos ressalta a admiração e carinho pela escritora Josmari. “Ela é muito bacana, atenciosa e nos conta cada história que depois eu também conto lá em casa e para meus amigos. Gosto muito dela, é engraçada e faz a gente rir e se emocionar durante suas apresentações”, disse.
As histórias e o resgate da imaginação popular cativam as pessoas. Essa é a definição da educadora Poliana Lorena Garezzi sobre o trabalho de Josmari. Poliana prossegue: “Além de ser divertido, as crianças aprendem, vivenciando um contexto mais próximo delas. Todo mundo acaba se divertindo, pois remete a uma larga experiência de vida, com histórias bacanas e gostosas de se ouvir”.
Wilton Júnior
A professora e escritora Josmari Araújo dos Santos conta histórias que encantam gerações distintas
RESENHA DOS LIVROS CONFORME A AUTORA
Chico Boneco
Chico Boneco era dono de um pedacinho de terra lá no Pontal do Ipiranga. Tinha uma venda no Mercado Municipal e não gostava de ver criança na rua. Era desengonçado, tinha enormes unhas e corria atrás das crianças nas ruas da cidade. Elas morriam de medo do Chico Boneco.
João da Santa
O João da Santa foi um índio botocudo que viu sua etnia quase ser exterminada. Uma família local o acolheu e deu uma santa para ele. O João andava com a santa pelas ruas da cidade. Perguntavam a ele se iria chover ou fazer sol e daí a pouco acontecia o que ele falava.
Irene
Irene morava no bairro Araçá mas não ficava em casa. Era andarilha e gostava de se pintar. Andava toda maquiada e adorava um batom. Vivia bem arrumada. Ela jogava beijos para as pessoas e pedia maquiagem.
Brincadeira de Criança é Brinquedo Sim!
Esse livro foi baseado nas aulas de Educação Física que dou. Uso várias brincadeiras. As crianças fizeram uma pesquisa com 121 brincadeiras, fizemos uma seleção e publicamos, inclusive com fotos das crianças brincando e com as devidas autorizações dos pais.
Zé da Lata
O Zé da Lata foi um personagem andarilho da cidade. Morava no bairro Olaria e andava com latas penduradas pelo corpo. Vivia nas ruas batendo essas latas e pedia café: “Eu quero café, eu quero mulher”, dizia.
O Rio Doce e Vovó Malico
Eu tinha um livro pronto, mas tive que mudar e resumir em razão da tragédia do rio Doce, com a queda da barragem em Mariana (MG). Fiz o livro com fotos do desastre e desenhos para colorir. Nele estão fatos tristes, mas temos que tirar lições para o futuro.