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Hartung (E) pode enfrentar o presidente Lula nas eleições de 2026
Por Marcelo Martins
A política brasileira oscila entre polos ideológicos que ora se distanciam em embates radicais, ora se aproximam em pragmatismos pontuais. Nomes com trajetória sólida, capacidade de articulação e discurso de equilíbrio ganham força sempre que o país busca uma saída pelo centro. É neste espaço que Paulo Hartung parece querer se posicionar para 2026.
Economista de formação, político por vocação, Hartung construiu uma carreira sem jamais perder uma eleição. Sua trajetória começa ainda jovem, como deputado estadual, evoluindo para deputado federal, prefeito de Vitória, senador e, por três vezes, governador, sendo lembrado por promover reformas administrativas, projetos de longo prazo e duríssimo ajuste fiscal.
No geral, seu histórico o credencia como um gestor competente e técnico, qualidades que lhe renderam respeito entre diferentes espectros ideológicos. Esteve no Partidão (PCB) na clandestinidade, no MDB de Ulysses, no PSDB e PSB. Nas décadas de 1980 e 1990 transitou no campo progressista, chegando a exaltar o então presidente Lula numa inauguração em Vitória.
Recalibrou-se ao centro durante os governos FHC e Lula e hoje se posiciona como moderado, buscando construir pontes num país que viveu há pouco uma tentativa de golpe de Estado. Após seu último mandato como governador, deu uma pausa na política institucional e assumiu papéis no setor empresarial como executivo e conselheiro de grandes instituições.
Com isso, ampliou seu repertório técnico e suas conexões em nível nacional, especialmente em São Paulo, onde reside e recentemente se filiou ao PSD de Gilberto Kassab, um partido conhecido por seu pragmatismo e capilaridade. Essa guinada não representou uma aposentadoria política, mas uma mudança de estratégia.
Hartung deixou os holofotes locais para circular por centros de poder econômico e político do Brasil, aprofundando sua interlocução com empresários, diplomatas, líderes partidários e atores do terceiro setor. Nos últimos meses tem dado sinais de retorno ao jogo político, se manifestando acerca de temas nacionais.
Fala sobre reformas estruturais, sustentabilidade fiscal, governança, relações internacionais etc., sempre em um tom sereno e analítico, distante da retórica inflamada que domina o debate público. “Depois de oito mandatos, não tenho bois nem fazendas. Vivo de carteira assinada”, declara nas redes sociais dele. Sua filiação ao PSD, base eleitoral do ex-prefeito Kassab, não é aleatória.
O partido tem musculatura no Congresso e articulação em diversos estados e municípios, o que pode ser fundamental para uma eventual candidatura à Presidência da República. Ao mesmo tempo, Kassab mantém o partido numa posição de centro, pronto para dialogar com diferentes campos, o mesmo terreno em que Hartung sempre transitou com certa desenvoltura.
A eleição de 2026 se desenha em torno do presidente Lula e a extrema-direita ou seus herdeiros políticos. No cálculo de Hartung e Kassab, há uma fadiga com extremos que abre espaço para alternativas ditas mais equilibradas, desde que tenham densidade política, discurso consistente e capacidade de costurar alianças.
Nesse contexto, aparece como um nome possível. Experiente, com boa relação com o mercado, respeitado na grande mídia e com trânsito entre diferentes atores, ele pode ser visto como uma candidatura de “terceira via”, embora o termo esteja desgastado. Diferente de outsiders, ele conhece o jogo e tem histórico de entrega, o que pode ser um trunfo.
Sua principal dificuldade será a visibilidade nacional. Embora conhecido nos bastidores e respeitado nos círculos de poder, não é um nome popular no imaginário coletivo fora do Espírito Santo. Mas, quem liga pra isso em tempos de internet e redes sociais? Além disso, o fiasco Fernando Collor saiu das Alagoas e chegou à Presidência. E Jair Bolsonaro também conquistou o posto.
Para crescer politicamente, Hartung precisará de uma estratégia de comunicação ousada, apoio de forças políticas relevantes e tempo de televisão, sobretudo nos debates, algo que o PSD pode oferecer, dependendo das alianças. Portanto, a sua possível candidatura à Presidência em 2026 ainda é especulativa, mas não improvável.
Sua trajetória, marcada pela competência técnica, capacidade de diálogo e solidez política, o coloca como um nome apto para ocupar um espaço que muitos consideram uma incógnita. Se conseguirá se viabilizar eleitoralmente, depende de muitos fatores: da conjuntura nacional, da disposição do eleitorado em ouvir o centro e da capacidade de mobilização de sua candidatura.
E Hartung deverá ter uma “pedreira” a sua frente: o presidente Lula, que trabalha para recuperar o prestígio popular – que é medido com frequência pelas pesquisas. Diante de tudo isso, há uma certeza: Hartung, o estrategista silencioso, já está em movimento e deve ser observado com atenção.