Quinta-Feira, 6 de março de 2025

TERRAL homenageia Jacy Roque Pratti

Publicado em 04/02/2025. https://jornalterral.com.br/t-DD8E

Daniel Porto

Após rica trajetória, Jacy Roque Pratti faleceu em 2 de dezembro de 2024, deixando tristes familiares e amigos

Por Daniel Porto

A história do professor, advogado e empresário Jacy Roque Pratti merece ser registrada com muito zelo. Ele nasceu no povoado de Santa Joana, em Colatina, em 22 de setembro de 1937, e com apenas um ano a família mudou para Linhares. O seu falecimento ocorreu em 2 de dezembro de 2024, deixando tristes familiares e amigos.

Jacy era filho de Izabel Roque Pratti, a primeira professora formada a lecionar em Linhares, e de Gumercindo da Silva Pratti, um barbeiro que amava caçar e pescar. Gumercindo empresta o nome para movimentada rua do bairro Juparanã, em Linhares, fruto de uma homenagem do poder público – câmara e prefeitura.

Após concluir o ensino fundamental em Linhares, Jacy seguiu para Domingos Martins e Vitória, para estudar. Finalizou o ensino médio, voltou para o município e começou a dar aulas de geografia e matemática numa escola liderada por Ema e Aires Pinheiro, situada no centro da cidade, onde depois funcionou o colégio “Afrânio Peixoto”.

Acervo pessoal

Aos 12 anos, época na qual deixou Linhares e foi estudar em Domingos Martins e Vitória

Trabalhou na prefeitura de Linhares, estudou Direito, se tornou um advogado respeitado e investiu em empreendimentos – com destaque para o Pratti Park Hotel. Além disso, teve participação efetiva no meio social e artístico, como presidente do Guararema Clube e promotor de eventos.

Com o objetivo de homenageá-lo, o TERRAL traz tópicos de uma reportagem que fez com Jacy Roque Pratti em dezembro de 2023.

Experiência na política

Trabalhou nas gestões dos prefeitos Armando Barbosa Quitiba (1969/1962), Antonio Edson Azevedo Lima (agosto de 1962 a janeiro de 1963) e Antenor Elias (1963/1966). Foi secretário de Antenor Elias (na época o prefeito nomeava apenas um secretário) e elogia: “Antenor venceu as eleições em cima de uma bicicleta e trabalhou muito pela população”.

Como secretário, Jacy lutou para que fosse construída a maternidade “Carmosina Elias”, obra que deu origem à Fundação Beneficente Rio Doce, provedora do hospital Rio Doce, e ressalta que foi um dos responsáveis pela criação da Guarda Civil Municipal.

“Durante a gestão de Antenor Elias foi feito o calçamento da avenida João Filipe Calmon, no centro da cidade, com arborização, postes de iluminação e jardim no meio da avenida. Por razões políticas, as árvores eram arrancadas à noite. Aí sugeri ao prefeito a criação da guarda, o que acabou ocorrendo”, ele conta.

Jacy informa que era muito amigo de Benedito Elias, o Bento, filho do prefeito Antenor Elias. “Bento era meu colega de faculdade, de festas e de trabalho. A atuação do nosso grupo político fez com que ele fosse eleito deputado estadual em 1966, para a legislatura 1967-1971, mas depois o Bento optou pela advocacia e foi brilhante”.

O interesse pela política continuou latente em Jacy, a ponto de levá-lo a apoiar abertamente Samuel Batista Cruz para prefeito de Linhares em 1972. “Já conhecia bem o Samuel, pois ele havia sido eleito vereador em 1962 e 1966. Em 1970 ele se candidatou a deputado estadual e perdeu por poucos votos. Aí decidimos apoiá-lo para prefeito e ele ganhou”.

Jacy conta que pretendia ser secretário municipal e fazer um trabalho para disputar a prefeitura em 1976, mas Samuel chamou outros aliados e alegou que a prefeitura não tinha condições de pagar o salário que Jacy merecia. “Um ano depois de ter assumido como prefeito, Samuel me procurou e me convidou para fazer parte do governo, mas eu estava muito bem na advocacia e recusei o convite”.

O retorno à política só ocorreu em 1992, como candidato a vereador. “Enfrentei vários problemas na campanha, que envolveram a coligação do meu partido e depois diretamente a minha candidatura, e isso atrapalhou a minha votação. Porém, apoiei o José Carlos Elias para prefeito e ele foi eleito, assim como o Guerino Zanon em 1996”, recorda.

Acervo pessoal

Jovem, exerceu cargos públicos e pensou em disputar a prefeitura em 1976

Sucesso na advocacia

Jacy Roque Pratti estudou Direito na Universidade Federal do Espírito Santo e colou grau em 1968, mas começou a atuar antes, em 1966, como solicitador – na época, o acadêmico do Direito podia trabalhar se tivesse um assistente. No caso dele, o assistente era o advogado José Eduardo Roque, um tio que residia em Vitória.

Exerceu a advocacia até 2015, ou seja, durante 49 anos, e foi muito bem-sucedido na profissão. No começo assumia todos os tipos de causas; nos últimos dez anos de atuação, somente causas cíveis (direitos civil, trabalhista e comercial). “Posso dizer com convicção que fui muito bem-sucedido na advocacia”, ressalta.

A participação no meio artístico e social

Jacy Roque Pratti teve uma vida intensa no meio artístico e social. Atuou como empresário de Os Inquietos assim que o grupo surgiu, em 1966; presidiu o Guararema Clube de 1974 a 1978, promovendo shows com artistas consagrados; e realizou muitos eventos e shows no Pratti Park Hotel, empreendimento inaugurado em 1984.

Sobre Os Inquietos, Jacy conta que foi a um show no posto Shell, no bairro Shell, e lá viu tocando Jorge Vaccari, Sebastião Coelho, Pirola, Joanilson e Emílio Casotti. Gostou do que ouviu, pediu para que colocassem nome no grupo e investiu, comprando instrumentos e equipamentos de som.

Transformou-se, então, no empresário de Os Inquietos durante um tempo. O grupo passou a se apresentar no Clube Juparanã e em outros locais. Anos depois, no Guararema Clube.

No livro Súmulas de Algumas Obras de Autores Brasileiros, da escritora Antonieta Banhos Fernandes, lançado em 1994 pela D. Porto Editora, o guitarrista Jorge Orrevan Vaccari confirma que o empresário de Os Inquietos no início da trajetória era Jacy Roque Pratti. “O público sempre foi fiel. Muita gente se conheceu, namorou, se formou, aniversariou, debutou e se casou ao som de Os Inquietos”, disse.

Jorge registra que teve a ideia de criar o grupo em junho de 1966 e que se uniu ao irmão Joel e aos amigos Joanilson Piantavinha, Sebastião Coelho, Francisco de Assis Daher Pirola e José Emílio Casotti. “Muitas apresentações foram executadas pelo grupo, alegrando moradores de cidades do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia”, pontua.

Na presidência do Guararema, Jacy Pratti ampliou a área do clube e construiu a piscina, entre outras realizações. No entanto, o grande feito de suas gestões no período 1974-1978 foram os shows com artistas nacionais, como Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Martinho da Vila, Nelson Gonçalves, Lafayette, Luiz Gonzaga, Sérgio Reis e Roberto Carlos.

Na época, Linhares experimentava um forte crescimento econômico, impulsionado principalmente pela extração de madeira e plantações de café e cacau. Atento a esse contexto, Jacy Roque Pratti mobilizou a sociedade e promoveu vários shows – com os cantores que estavam em evidência no Brasil.

“A diretoria do Guararema se reunia, definia um nome para contratar, vendia as mesas e enviava o dinheiro para o artista. A adesão de fazendeiros, empresários e outros era imediata”, conta Jacy Pratti. O show de maior repercussão foi o de Roberto Carlos, em 14 de setembro de 1974.

Para Jacy, esse show é um dos eventos musicais mais marcantes da história de Linhares. Ele destaca que naquela noite o Guararema ficou lotado. “Vendemos todas as mesas com antecedência e, no dia do show, ingressos avulsos. Não deu para quem quis”, afirma.

Jacy ressalta dois grandes eventos em Linhares: o show de Roberto Carlos no Guararema Clube e o casamento da filha, Simone, que contou com um conjunto do Rio de Janeiro e show de Dominguinhos. “Fiz uma festa realmente fantástica para 1,2 mil convidados no centro de convenções do Pratti Park Hotel”, comemora.

À frente do Pratti Park Hotel, que havia inaugurado em 1984, Jacy realizou eventos e shows de ponta e em espaços estratégicos: no centro de convenções, à beira da piscina e na boate. O violonista Maurício de Oliveira e o cantor Nelson Ned foram duas das muitas atrações.

Divulgação

Primeira formação do grupo Os Inquietos, em 1966. Da esq. para a dir.: Jacy Roque Pratti (empresário), Francisco Pirola (sax), Joel Vaccari (bongô), Joanilson Piantavinha (bateria), José Emílio Casotti (maracas), Sebastião Coelho (guitarra base) e Jorge Vaccari (guitarra base e solo)

Espírito empreendedor

Jacy Roque Pratti teve pousadas e outros negócios no Espírito Santo e na Bahia. “Sempre lutei para fazer o melhor e para oferecer serviços de qualidade e atendimento de excelência”, afirma. Por essa razão, conquistou muitos prêmios no meio empresarial.

Com satisfação, ele destaca: “Em 1984 inaugurei em Linhares o Pratti Park Hotel, 4 estrelas, com piscina, restaurante, boate, centro de convenções e academia. Décadas depois, o empreendimento continua moderno e é referência no município. Trata-se de um hotel de ponta”

Curiosidades

Jacy Roque Pratti é virginiano, professa a religião católica, ama Linhares e admira da frase “Só o amor constrói”. Gosta de caminhar diariamente, prática que adotou há décadas. O prato preferido é qualquer um que tenha peixe e frutos do mar, mas, cozido: nada de peixe cru. Para acompanhar, um bom vinho.

Gosta de ir à praia, tomar banho de mar e apreciar as belezas naturais. Ama o filme “Os brutos também amam”, os atores Fernanda Montenegro e Paulo Autran e os cantores Zizi Possi e Gonzaguinha. Afirma não ter arrependimentos, procura fazer sempre o melhor e não sente falta daquilo que não está ao seu alcance.

Considera falta de educação uma pessoa atender o celular quando está conversando com outra. Sua cor preferida é azul. Considera lixo a soberba e luxo a competência com humildade e simplicidade. Dá o máximo de si quando abraça uma profissão e abre mão dela se perceber que está desmotivado.

Jacy Pratti fala com orgulho dos familiares (pais, filhos e netos) e não economiza elogios às filhas: Simone, mãe de Carlos Eduardo e Carlos Henrique; Juliana, mãe de Letícia e Gabriela; Camille e Líbia, mãe de Isabel.

Para Libia, o pai vive com dedicação e demonstra que não há circunstância que possa deter o potencial que há dentro de cada um. “Meu pai tem uma mente brilhante, determinação de atleta, é visionário, ultrapassou seus limites e foi muito além do que alguém poderia imaginar. Ele viu um caminho, percorreu, venceu e continua assim, com espírito de campeão”, finaliza.

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