Arquivo TERRAL
A historiadora Maria Lúcia Zunti nasceu em 1941 e faleceu em 2022
Linhares perdeu a professora, historiadora e escritora Maria Lúcia Grossi Corrêa Zunti em 2 de junho de 2022, após ela ficar um período enfrentando problemas de saúde. O velório ocorreu no dia seguinte, na capela ao lado do cemitério São José, entre os bairros Novo Horizonte e Interlagos, e o corpo foi sepultado às 11 horas..
Mineira de Mercês, Maria Lúcia fixou residência em Linhares em 1968 e desde então conquistou a admiração de muitos. As suas contribuições para a comunidade foram expressivas e beneficiaram várias gerações.
Tudo começou em 3 de março de 1941, quando veio ao mundo e encheu de alegria os pais: a inspetora educacional e pedagoga Lenira da Cunha Baumgratz Grossi e o médico João Evangelista Grossi. Casou em 1962 com o engenheiro agrônomo e servidor federal Adauto Corrêa Zunti e seguiu para Sete Lagoas (MG).
Em 1968, Adauto era servidor da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e recebeu convite para assumir a Reserva de Goitacazes, em Linhares. Maria Lúcia e os filhos Renato e Virgínia aguardaram a reforma da casa, situada na própria reserva, e cinco meses depois chegaram ao município.
Aqui o casal teve mais três filhos: Ricardo, Adalúcia e Christiane, e com o passar das décadas comemorou o nascimento de dez netos: Raffaela, Nicoli, Cibely, Mariana, Adauto, Matheus, Guilherme, Idália de Tassis, Nathália e Maria Clara. Sobre o duradouro casamento com Adauto Zunti, dizia que, além do amor, deve existir companheirismo e lealdade.
Enquanto lecionava, Maria Lúcia aprimorava a formação acadêmica. Cursou História pelo Centro Universitário do Espírito Santo (1974), especializou-se em Planejamento em Educação pela Universidade Salgado de Oliveira (1992), fez mestrado em Educação na Universidade Federal do Espírito Santo (2000) e aperfeiçoamento em Instituições Políticas Brasileiras na Universidade Federal de Minas Gerais (2008).
Atuação consistente e cheia de realizações
Disposta a socializar os conhecimentos, escreveu e lançou livros sobre a história do município (Panorama Histórico de Linhares, duas edições), de poesias e o resumo de sua dissertação de mestrado – com foco na história da Educação no Espírito Santo. Teve artigos científicos publicados em revistas do PPGE/Ufes e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
Escreveu crônicas, ensaios e poesias para antologias da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, tendo sido organizadora de uma dessas antologias. E publicou crônicas e ensaios em jornais, sites e revistas de Linhares. Colaboradora da D. Porto Editora, escreveu diversos textos para o Jornal TERRAL, Revista da TERRA e o site jornalterral.com.br
Tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico do ES (IHGES) em 1990 e da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras em 2002. Recebeu o título de Cidadã Linharense e a Comenda Caboclo Bernardo, maior honraria do município, concedida pela Câmara de Linhares em 1993.
Foi uma das fundadoras da Serlihges (Seccional Regional de Linhares do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo) em 29 de abril de 1992 e, como presidente, promoveu diversas ações e deu visibilidade à entidade.
Em 2000, defendeu a dissertação de mestrado, colocou a Fanorte (uma faculdade particular) para funcionar e ainda lançou a segunda edição do Panorama Histórico de Linhares.
A Prefeitura de Linhares comprou a Fanorte em 2005 e Maria Lúcia foi chamada pelo então prefeito, José Carlos Elias, para organizar os documentos necessários visando à criação de uma faculdade municipal.
Ela fez o contrato social, criando a mantenedora e a mantida, e sugeriu para ambas o nome Faceli – uma abreviatura de Faculdade de Ensino Superior de Linhares. Em seguida, cuidou da legislação da faculdade, voltada para o ensino, pesquisa e extensão, e da definição e oferta dos cursos.
Voltou a trabalhar na Faceli em 2013, contribuindo na elaboração do PDI (Projeto de Desenvolvimento Institucional), que reuniu mais de 100 páginas e foi aprovado pelo Conselho Estadual de Educação. Na época, a faculdade era presidida pela professora e doutora Sandra Mara Mendes da Silva Bassani.
Maria Lúcia sempre pedia às pessoas para que procurassem conhecer a história do lugar no qual moram, tendo nascido ali ou não. “A cidadania não se resume à carteira de identidade. É algo muito maior e passa pela busca do conhecimento”, enfatizava.
Bonita homenagem em programa
Em 2018, o professor José Rodrigues Pereira, responsável pelo programa Sim para a Literatura, exibido pela TV SIM Linhares, prestou uma bonita homenagem a Maria Lúcia Zunti, por meio de uma edição especial.
No programa, os filhos se manifestaram. Virginia disse que a mãe sempre gostou de ensinar história. “Fui aluna dela. A minha mãe sempre amou as pequenas coisas e se dedicou a grandes projetos”.
Renato lembrou que a mãe batalhou bastante para contar a história do município. “O livro Panorama Histórico de Linhares marcou muito as nossas vidas. Vivenciamos isso e ficamos felizes com o resultado”.
Adalúcia definiu a mãe com duas palavras: paixão e dedicação. “Mamãe sempre passou isso para a gente. Para ela, tudo deve ser intenso e real, escrevendo, dando aula, atuando como profissional da Educação, na Serlihges, enfim, em todas as situações nas quais está inserida”.
Para Christiane, o mais marcante é o entusiasmo: “Mamãe faz as coisas com prazer. Ela exala isso na alma e no corpo. Pensa de forma abrangente, de como pode ajudar outras pessoas a entenderem o que aconteceu ou está acontecendo. Ela me ensinou isso, a fazer as coisas bem feitas”, disse.
Convidada para participar do programa, a professora e escritora Arlene Campos destacou: “Um dos melhores presentes que Linhares já recebeu foi a professora e historiadora Maria Lúcia Zunti”. Também presente, o presidente da Serlihges, Reuber da Costa Nascimento, completou: “Ela tem um caráter excepcional”.