Daniel Porto - Arquivo TERRAL

A trajetória como artista começou em Linhares
Por Daniel Porto
Em Linhares, Procópio ficava esculpindo em troncos de árvores na fazenda Três Marias. Foi quando um conhecido lhe disse que era um artista. Então, ele passou a dedicar mais tempo a esse trabalho e em seguida participou do Primeiro Festival de Arte realizado no município.
Um padre lhe convidou para esculpir para a paróquia e ele aceitou o desafio. A partir daí, entregou uma série de obras para templos religiosos e para a iniciativa privada. Porém, no início tudo foi difícil. Nos períodos mais críticos chegou a dormir embaixo de ponte. Amparado pela comunidade, recebia doações de alimentos e remédios.
Morou na Fazenda Céu Azul, em Brejo Grande, e em casas cedidas por amigos. Contando com o apoio da Igreja Católica, viveu cinco anos nos fundos da Igreja Velha, na rua da Conceição, e numa casa no bairro Interlagos. Depois, ao lado da esposa, Natalina Cortês da Silva, fixou residência no Pó do Shell.
No auge de sua trajetória, produziu muitas obras, concedeu diversas entrevistas e dedicou parte do tempo para conversar com estudantes, inclusive numa movimentada lanchonete situada no Centro da cidade. Seus trabalhos ficavam expostos em Linhares, em outras cidades do Espírito Santo e em estados vizinhos.
Seu nome passou a figurar no catálogo do Salão Nacional de Belas Artes e Procópio participou de exposições em Vitória e no Rio de Janeiro. Também teve o nome inserido no livro “Escultores do Brasil” e no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Em 1997 recebeu o título de Cidadão Linharense, na Câmara de Linhares, por indicação do então vereador José Cardia.
Comercializou esculturas para denominações religiosas e fez obras para vários empreendimentos no norte do Espírito Santo, com destaque para a casa noturna Tukaya, que marcou época em Linhares. Depois, comandou uma barraca instalada perto da prefeitura.
Na ocasião, o prédio público ficava ao lado da praça 22 de agosto, no Centro de Linhares, e o fórum funcionava dentro da praça. Procópio, então, mantinha contato frequente com muitos servidores, clientes e populares. Gostava ainda de apreciar as belezas da lagoa Juparanã e de curtir a vila de Regência.
Décadas depois, mesmo estabelecido e apaixonado por Linhares, decidiu voltar ao nordeste. O andarilho queria agora retomar as suas raízes. Porém, ao ser recebido sem muito entusiasmo pelos familiares, retornou à terra do cacau – para não mais deixá-la.
Não negava a dependência que teve pela bebida, fato que lhe causou vários transtornos. Foi atropelado duas vezes. No entanto, a sua maior decepção foi na fase final da vida, quando, ao brigar com outro homem, recebeu golpes de facão na cabeça e perdeu três dedos da mão direita.
A agressão lhe deixava indignado, frustrado e revoltado. Procópio também reclamava da falta de reconhecimento. Dizia que fora esquecido pela sociedade, meio cultural e poder público.
Ao mesmo tempo, agradecia a todos que o apoiavam. Daí o misto de boas lembranças e sensação de abandono, sentimentos que o acompanharam até a sua partida.
REGISTRO
Quem mora em Linhares há vários anos certamente já ouviu falar no escultor Manoel Procópio da Silva, o MPS. Além de se notabilizar por meio de obras esculpidas em madeira, ele se destacou na região por ter personalidade forte e pela participação ativa na comunidade.
A sua trajetória marcante levou a D. Porto Editora, responsável pelo TERRAL (site e jornal impresso), a realizar um trabalho voltado para o resgate de sua história. A iniciativa da editora e parceiros abarca matérias, documentário e exposições, e estão sendo mostrados no ano em curso.
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